Revista Intercâmbio 2011 - Sesc
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INTERCÂMBIO . RIO DE JANEIRO . v. 1 . n. 1 . p. 8-23 |<br />
NOVEMBRO/FEVEREIRO SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO<br />
14<br />
Professora e sua turma<br />
de crianças de 4 anos em<br />
situação de leitura, quando<br />
cada criança escolheu o<br />
que gostaria de ler (nesse<br />
caso, livros de literatura<br />
infantil e/ou gibis da Turma<br />
da Mônica). Após esse<br />
momento foi proposto o<br />
reconto das histórias pelas<br />
crianças.<br />
Imagem cedida pelo SESC<br />
Anápolis, Departamento<br />
Regional do SESC em<br />
Goiás.<br />
o gibi sobre o colo, a boca entreaberta denotando total atenção<br />
à leitura, mesmo sem ainda saber decifrar o código que acompanhava<br />
as gravuras. De onde vêm estas posturas de leitor?<br />
Rafael era ainda um bebê. É disso que fala Vygotsky.<br />
Vygotsky (2000, p. 68) demonstra que, mais do que meros aspectos<br />
a serem aprendidos e decorados, os signos são mediadores<br />
da construção de conhecimentos, pois trazem consigo<br />
ideias, significados cujos valores emergem de determinada<br />
cultura.<br />
A verdadeira essência da memória humana está no fato de os seres<br />
humanos serem capazes de lembrar ativamente com a ajuda de signos.<br />
E Benjamin fala que as crianças, mais do que estarem preocupadas<br />
em apenas imitar os adultos, preocupam-se em estabelecer<br />
entre os mais diferentes materiais uma nova e, às vezes,<br />
incoerente relação.<br />
Rafael certamente vive em uma cultura onde a leitura ocupa um<br />
lugar importante. Poderíamos nos arriscar a dizer que presencia<br />
pessoas em situação de leitura, que, inclusive, lhe oferecem esses<br />
materiais. E mais: esses adultos, por sua vez, assim como ele, estão<br />
em meio a uma cultura cujos signos relacionados à língua<br />
escrita têm muito peso na sua constituição de sujeito.<br />
Tomando o conceito de “experiência coletiva”, de Walter<br />
Benjamin, podemos compreender um pouco do que se passa<br />
com Rafael. O conhecimento, no sentido da experiência, pode<br />
ser distinguido de duas maneiras: o primeiro, obtido em meio<br />
à experiência coletiva, aquele que então se desdobra e se<br />
acumula, e o segundo, em meio ao isolamento do sujeito, tendo<br />
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