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Revista Intercâmbio 2011 - Sesc

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SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO INTERCÂMBIO . RIO DE JANEIRO . v. 1 . n. 1 . NOVEMBRO/FEVEREIRO | p. 76-97<br />

de uma concepção ampliada de saúde — para além de objetivos<br />

fisiológicos.<br />

De uma forma geral, o discurso dominante (nos meios de comunicação,<br />

entre os especialistas da área e na maior parte da<br />

população) vem reforçando a crença de que a prática de exercícios<br />

físicos per si faz bem a saúde. Parece estabelecer também<br />

uma norma social que imputa nos indivíduos a necessidade de<br />

adesão aos programas de exercícios físicos. Ambas (a crença e a<br />

norma) pautadas em uma moral do apto versus o inapto; do<br />

forte (de corpo e de caráter) versus o fraco; do saudável versus<br />

o doente; do ativo versus o indolente (LOVISOLO, 2002).<br />

Nas sociedades atuais de características hedonistas, esse<br />

discurso passa uma mensagem ambígua: para alcançar o<br />

prazer, a vida boa e longa e a felicidade é necessário assumir<br />

atitudes estoicas, disciplinadas e de autocontrole, mesmo<br />

que pareça um comportamento paradoxal. “O exercício<br />

físico é uma alegria, mas também é um dever” (COURTINE,<br />

1995, p. 102). E, em muitos casos, parece ser mais dever,<br />

com poucos aspectos da ludicidade desenvolvidos intencionalmente<br />

nas intervenções.<br />

Assim, para quem segue esses ditames estoicos, a prática de<br />

exercícios físicos vinculados à saúde no tempo disponível<br />

pode estar se configurando mais em uma perspectiva de “antilazer”,<br />

objetivados para servir à lógica produtiva e medicalizante,<br />

do que ao gosto, ao prazer e à fruição. 5<br />

Autores questionam se não é necessário repensar a relação<br />

meio-fim entre a prática de exercício físico, aptidão física e<br />

saúde. Em vez de se forjar a saúde por meio do exercício físico/<br />

aptidão física, seria a saúde/aptidão física um meio de capacitar<br />

as pessoas para o desempenho de uma “atividade física que<br />

brinde prazer e bem-estar em cada indivíduo?” (MIRA, 2000,<br />

p. 74).<br />

O exercício físico não é meramente um estímulo biológico, mas um fenômeno<br />

complexo de dimensões múltiplas — biológicas, psicológicas, sociais<br />

e culturais [...]. Aspectos físicos, psicológicos, motivacionais, sociais,<br />

simbólicos etc. tudo se combina na expressão motriz. Portanto, desde o<br />

momento que o exercício físico está integrado por diversos aspectos<br />

— muitos deles impossíveis de serem quantificados — os critérios e<br />

indicadores fisiológicos que são utilizados para avaliar a sua eficácia<br />

nos processos de saúde/doença têm uma validade limitada (MIRA,<br />

2000, p. 64).<br />

5 Não se propõe uma generalização.<br />

Muitos grupos e<br />

programas de exercícios físicos<br />

dispõem de elementos<br />

lúdicos. A intenção nesse<br />

trabalho é alertar que diante<br />

de certas palavras de ordem,<br />

de métodos empregados nas<br />

intervenções e de atitudes de<br />

profissionais, a prática pode<br />

estar concentrando características<br />

extremamente utilitárias,<br />

com pouco ou nenhum espaço<br />

para o lúdico.<br />

Reflexões sobre a relação entre exercício<br />

físico-esportivo, saúde e lazer<br />

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