INFORME 2013 - ANISTIA INTERNACIONAL O ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO
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L<br />
usados para punir os detentos e extrair "confissões".<br />
As pessoas detidas eram mais vulneráveis no<br />
momento da prisão, nos primeiros dias de detenção e<br />
durante os interrogatórios. Muitas assinaram<br />
"confissões" mediante tortura ou coação. O artigo 2º<br />
da Lei nº 38 de 2012 deixava a cargo dos juízes<br />
conferir valor legal aos registros de interrogatórios<br />
feitos por milícias.<br />
Muitos detentos foram submetidos a prolongados<br />
espancamentos com mangueiras, coronhas de fuzil,<br />
cabos elétricos, canos de água ou cintos, geralmente<br />
enquanto ficavam suspensos em posições<br />
contorcidas. Alguns foram torturados com choques<br />
elétricos, queimados com cigarros e metais quentes,<br />
escaldados com água fervente, ameaçados de morte<br />
ou estupro e submetidos à simulação de execução.<br />
Dezenas de detentos morreram sob custódia das<br />
milícias, do Comitê Supremo de Segurança e em<br />
prisões oficiais, em circunstâncias indicativas de que<br />
a tortura havia sido um fator contribuinte ou causador<br />
de suas mortes.<br />
n Tarek Milad Youssef al Rifai, ex-policial de Tawargha,<br />
morreu no dia 19 de agosto depois de ser levado da<br />
penitenciária Wehda para o Comitê Supremo de<br />
Segurança em Misratah a fim de ser interrogado. Ele<br />
havia sido capturado em sua casa, em Trípoli, em<br />
outubro de 2011, por milicianos armados de Misratah.<br />
Seus familiares encontraram o corpo marcado por<br />
ferimentos em um necrotério de Misratah; o laudo da<br />
perícia indicou que sua morte foi causada por<br />
espancamento. A família protocolou uma denúncia<br />
junto às autoridades, mas nenhuma investigação<br />
efetiva sobre sua morte foi iniciada.<br />
n A família de Ahmed Ali Juma encontrou seu corpo<br />
em um necrotério de Trípoli, dias depois de ele ter sido<br />
intimado para interrogatório no Conselho Militar de Abu<br />
Salim em julho. O laudo da autópsia identificou "lesões<br />
múltiplas pelo corpo, na cabeça, no torso, nos<br />
membros e nos genitais", concluindo que ele fora<br />
"espancado até morrer". Ninguém foi responsabilizado<br />
por sua morte.<br />
Confrontos armados<br />
Embates esporádicos entre milícias armadas<br />
resultaram em morte e ferimentos de transeuntes e<br />
moradores, bem como de combatentes. Tais<br />
confrontos eram bastante comuns, tendo ocorrido em<br />
Kufra em fevereiro, abril e junho, em Sabha em<br />
março, nas Montanhas de Nafusa em junho, em<br />
Barak al Shat em setembro, e em Bani Walid em<br />
outubro. Combatentes milicianos dispararam armas<br />
tais como foguetes Grad, mísseis e metralhadoras<br />
antiaéreas sobre áreas residenciais, provocando<br />
mortes e avariando ou destruindo propriedades. Em<br />
junho, milícias armadas teriam usado fósforo branco<br />
em Sgeiga, apesar da ameaça que essa substância<br />
apresentava aos moradores.<br />
Após semanas de cerco e de uma ofensiva armada<br />
do exército e de milícias em Bani Walid, que terminou<br />
em 24 de outubro, autoridades informaram que 22<br />
pessoas haviam sido mortas, embora se acredite que<br />
o número total seja muito mais alto. Entre os mortos<br />
estavam moradores de Bani Walid sem qualquer<br />
envolvimento com o combate, inclusive crianças.<br />
Mohamed Mustafa Mohamed Fathallah, por exemplo,<br />
de nove anos, morreu em consequência dos<br />
ferimentos causados por estilhaços quando sua casa<br />
foi bombardeada no dia 10 de outubro. No dia 30 de<br />
outubro, o então ministro da Defesa, Ossama Jweili,<br />
disse que o exército não tinha controle da situação e<br />
alegou que as milícias estavam cometendo abusos<br />
generalizados.<br />
As autoridades apontaram comitês de inquérito<br />
para investigar alguns dos choques armados; porém,<br />
até o fim do ano, nenhum resultado havia sido<br />
divulgado, nenhum perpetrador havia sido levado à<br />
Justiça e nenhuma vítima havia recebido reparação.<br />
Refugiados, requerentes de asilo e<br />
migrantes<br />
Apesar das garantias contidas da Declaração<br />
Constitucional da Líbia, promulgada em agosto de<br />
2011, sobre o reconhecimento do direito de buscar e<br />
desfrutar de asilo, o governo não ratificou a<br />
Convenção sobre Refugiados da ONU, nem assinou<br />
um memorando de entendimento com o ACNUR, a<br />
agência da ONU para os refugiados, tampouco<br />
adotou leis sobre asilo.<br />
As milícias armadas e a polícia continuaram a<br />
deter arbitrariamente cidadãos estrangeiros sem<br />
documentos, inclusive pessoas que necessitavam de<br />
proteção internacional, por supostos "delitos" de<br />
imigração, como entrar no país de modo "irregular".<br />
No fim do ano, milhares de pessoas encontravam-se<br />
detidas por tempo indefinido, aguardando serem<br />
deportadas, em centros de detenção superlotados e<br />
com péssimas condições de higiene. Elas não tinham<br />
quaisquer meios para contestar a legalidade de sua<br />
114 Informe <strong>2013</strong> - Anistia Internacional