INFORME 2013 - ANISTIA INTERNACIONAL O ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO
INFORME 2013 - ANISTIA INTERNACIONAL O ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO
INFORME 2013 - ANISTIA INTERNACIONAL O ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
B<br />
Entretanto, as moradias e as fontes de subsistência<br />
dos povos indígenas, dos trabalhadores rurais sem<br />
terras, das comunidades de pescadores e dos<br />
moradores de favelas em áreas urbanas continuaram<br />
sendo ameaçadas por projetos de desenvolvimento.<br />
Em novembro, o Brasil foi reeleito para o Conselho<br />
de Direitos Humanos da ONU. Embora tenha<br />
criticado as violações ocorridas no conflito armado da<br />
Síria, o país absteve-se em uma resolução da<br />
Assembleia Geral que manifestava preocupação com<br />
a situação dos direitos humanos no Irã.<br />
Em maio, a Câmara dos Deputados aprovou uma<br />
emenda constitucional que permite o confisco de<br />
terras nas quais se comprove o uso de trabalho<br />
escravo. No fim do ano, a reforma ainda aguardava<br />
aprovação do Senado.<br />
Impunidade<br />
Em maio de 2012, a presidente Dilma Rousseff criou<br />
a Comissão Nacional da Verdade, com mandato para<br />
investigar violações dos direitos humanos ocorridas<br />
entre 1946 e 1988. No decorrer do ano, foram<br />
realizadas investigações com base em registros, bem<br />
como audiências para colher testemunhos.<br />
Entretanto, o fato de algumas audiências terem<br />
transcorrido em segredo suscitou preocupações. O<br />
estabelecimento da Comissão Nacional da Verdade<br />
levou à criação de diversas comissões da verdade em<br />
âmbito estadual, como nos estados de Pernambuco,<br />
do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Contudo,<br />
persistiram os temores sobre a capacidade do Brasil<br />
enfrentar a impunidade por crimes contra a<br />
humanidade enquanto a Lei da Anistia de 1979<br />
estiver em vigor. Em 2010, a Corte Interamericana de<br />
Direitos Humanos considerou que a Lei da Anistia<br />
brasileira não tinha validade jurídica.<br />
Procuradores federais iniciaram ações penais<br />
contra integrantes dos serviços de segurança<br />
acusados de sequestro durante os governos militares<br />
(1964-1985). Os procuradores argumentaram que<br />
tais crimes são "contínuos", ou seja, ainda perduram;<br />
portanto, não estão cobertos pela Lei da Anistia.<br />
Segurança pública<br />
Os estados continuaram a adotar práticas policiais<br />
repressivas e discriminatórias para enfrentar a<br />
violência criminal armada, que matou dezenas de<br />
milhares de pessoas. Jovens negros do sexo<br />
masculino constituíam um número desproporcional<br />
dessas vítimas, sobretudo no Norte e Nordeste do<br />
país.<br />
Em alguns estados, houve queda no número de<br />
mortes, geralmente decorrente de ações de<br />
segurança pública locais. Na cidade do Rio de<br />
Janeiro, por exemplo, a política de implementação<br />
das Unidades de Polícia Pacificadora foi estendida<br />
para novas favelas, contribuindo para a redução dos<br />
índices de homicídio.<br />
Em janeiro, o governo federal reduziu em quase 50<br />
por cento o financiamento do Programa Nacional de<br />
Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI).<br />
Apesar de o governo ter prometido implementar<br />
algumas políticas importantes para assegurar maior<br />
proteção, como, por exemplo, o Plano de Prevenção<br />
à Violência Contra a Juventude Negra, denominado<br />
“Juventude Viva”, temia-se que essas políticas<br />
carecessem de financiamento adequado.<br />
Nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, os<br />
homicídios cometidos por policiais continuaram a ser<br />
registrados como "autos de resistência" ou<br />
"resistência seguida de morte". Apesar das<br />
evidências de que esses casos envolviam o uso de<br />
força excessiva e de que, possivelmente, seriam<br />
execuções extrajudiciais, poucos foram efetivamente<br />
investigados. Em novembro, o Conselho de Defesa<br />
dos Direitos da Pessoa Humana aprovou uma<br />
resolução pedindo que todos os estados parassem<br />
de registrar homicídios cometidos por policiais como<br />
"autos de resistência" ou "resistência seguida de<br />
morte". A resolução pedia ainda que todos os<br />
homicídios cometidos por policiais fossem<br />
investigados, que as provas periciais fossem<br />
resguardadas e que as estatísticas sobre homicídios<br />
policiais fossem publicadas regularmente. No fim do<br />
ano, a resolução estava sob análise do governo do<br />
estado de São Paulo, com vistas a introduzir, em<br />
<strong>2013</strong>, alterações sobre como denominar os<br />
homicídios cometidos por policiais, bem como adotar<br />
medidas de preservação das cenas de crimes.<br />
No estado de São Paulo, o número de homicídios<br />
aumentou de forma significativa, revertendo a<br />
redução alcançada nos oito anos anteriores. Entre<br />
janeiro e setembro, foram registrados 3.539<br />
homicídios – um aumento de 9,7 por cento com<br />
relação ao mesmo período do ano anterior. O número<br />
de homicídios cometidos por policiais também<br />
aumentou de forma acentuada: mais de 90 pessoas<br />
foram mortas somente no mês de novembro. Na visão<br />
52 Informe <strong>2013</strong> - Anistia Internacional