INFORME 2013 - ANISTIA INTERNACIONAL O ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO
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B<br />
terras indígenas e quilombolas dos órgãos oficias para<br />
o Congresso Nacional. Temia-se que, se aprovada, a<br />
emenda politizasse o processo e ameaçasse<br />
proteções constitucionais.<br />
Grandes obras de infraestrutura continuaram<br />
provocando impactos danosos sobre os povos<br />
indígenas. As iniciativas que há muito vêm sendo<br />
empreendidas para identificar e demarcar terras<br />
indígenas continuaram paralisadas.<br />
n Apesar de uma série de protestos e contestações<br />
judiciais, a construção da hidrelétrica de Belo Monte foi<br />
levada adiante. Em agosto, os trabalhos foram<br />
suspensos após um tribunal federal ter concluído que<br />
os povos indígenas não haviam sido devidamente<br />
consultados; porém, a decisão foi revogada pelo<br />
Supremo Tribunal Federal.<br />
No estado do Mato Grosso do Sul, comunidades<br />
indígenas Guarani-Kaiowá continuaram a sofrer<br />
intimidações, violências e ameaças de remoção<br />
forçada de suas terras tradicionais.<br />
n Em agosto, depois de reocupar suas terras<br />
tradicionais no Mato Grosso do Sul, a comunidade<br />
Guarani-Kaiowá de Arroio-Korá foi atacada por<br />
pistoleiros que atearam fogo às plantações, gritaram<br />
insultos e dispararam tiros. Segundo testemunhas, os<br />
atiradores sequestraram o indígena Eduardo Pires.<br />
No fim do ano, seu paradeiro ainda era<br />
desconhecido.<br />
n Em outubro, confrontada com uma ordem de<br />
despejo, a comunidade de Pyelito Kue/Mbarakay, no<br />
Mato Grosso do Sul, divulgou uma Carta Aberta ao<br />
governo e ao judiciário brasileiros, na qual denunciava<br />
estar vivendo praticamente sob sítio, cercada por<br />
pistoleiros e sem o devido acesso a alimentos e a<br />
cuidados de saúde. Nesse mesmo mês, uma indígena<br />
da comunidade de Pyelito Kue/Mbarakay foi estuprada<br />
diversas vezes por oito pistoleiros que, logo após,<br />
interrogaram-na a respeito da comunidade. Na<br />
semana seguinte, um tribunal federal suspendeu a<br />
ordem de despejo até a conclusão de um relatório<br />
antropológico que identificaria oficialmente as terras<br />
indígenas.<br />
Comunidades quilombolas que lutam por seus<br />
direitos constitucionais à terra continuaram a sofrer<br />
violências e ameaças de remoção forçada da parte de<br />
pistoleiros contratados por proprietários de terras. A<br />
situação continuou crítica no Maranhão, onde ao<br />
menos nove comunidades foram submetidas a<br />
intimidações violentas, e dezenas de líderes<br />
comunitários foram ameaçados de morte.<br />
n Em novembro, a comunidade de Santa Maria dos<br />
Moreiras, no município de Codó, estado do Maranhão,<br />
foi invadida por pistoleiros que atiraram contra o<br />
assentamento. O ataque foi uma das tentativas<br />
sistemáticas dos proprietários de terras locais de<br />
expulsar a comunidade, recorrendo a métodos como a<br />
destruição de plantações e ameaças de morte contra<br />
líderes comunitários.<br />
Defensoras e defensores dos direitos<br />
humanos<br />
Defensoras e defensores dos direitos humanos foram<br />
submetidos a ameaças e intimidações em<br />
consequência direta de seu trabalho. Os que<br />
desafiavam interesses econômicos e políticos escusos<br />
corriam maior perigo. Uma vez que o Programa<br />
Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos<br />
Humanos ainda apresentava problemas em sua<br />
implementação, a proteção aos defensores era<br />
inconsistente.<br />
n Nilcilene Miguel de Lima, uma ativista rural do<br />
município de Lábrea, no estado do Amazonas, foi<br />
ameaçada, espancada e expulsa de sua casa em maio,<br />
depois de denunciar a extração ilegal de madeira na<br />
região. Embora tenha recebido proteção armada por<br />
meio do Programa Nacional de Proteção, Nilcilene teve<br />
que ser retirada da região quando as ameaças contra<br />
ela se intensificaram. Desde 2007, pelo menos seis<br />
trabalhadores rurais foram mortos naquela área em<br />
razão de conflitos por terra.<br />
n A ativista ambiental Laísa Santos Sampaio, do<br />
assentamento Praia Alta Piranheira, em Nova Ipixuna,<br />
no estado do Pará, continuou a receber ameaças de<br />
morte. As ameaças começaram após o assassinato de<br />
sua irmã, Maria do Espírito Santo da Silva, e de seu<br />
cunhado, José Cláudio Ribeiro da Silva, por matadores<br />
de aluguel em maio de 2011. No fim de 2012, ela ainda<br />
não havia recebido proteção, pois o Programa de<br />
Proteção não estava operante no estado.<br />
n Em Magé, no estado do Rio de Janeiro, o presidente da<br />
organização local dos pescadores, a Associação Homens e<br />
Mulheres do Mar (Ahomar), Alexandre Anderson de<br />
Souza, e sua esposa, Daize Menezes, receberam uma<br />
série de ameaças de morte. A Ahomar vem realizando uma<br />
campanha contra a construção de um complexo<br />
petroquímico na Baía da Guanabara, no estado do Rio de<br />
Janeiro. Ao fim de junho de 2012, os corpos de dois<br />
pescadores membros ativos da Ahomar, Almir Nogueira de<br />
54 Informe <strong>2013</strong> - Anistia Internacional