Revista Cena Internacional
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O IMPÉRIO BRASILEIRO E AS REPÚBLICAS DO PACÍFICO – 1822/1889<br />
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○ Luís Cláudio Villafañe G. Santos<br />
Assim, a diplomacia imperial, ao invés de reagir à pretendida aliança com o<br />
recurso de uma contra-aliança, buscou evitar que a Argentina aderisse ao tratado entre<br />
a Bolívia e Peru ou que, pelo menos, ficasse estabelecido que tal entente não poderia<br />
ser dirigida contra o Império. Para tanto, instruiu os seus representantes em Lima e La<br />
Paz a pressionarem os respectivos Governos para incluir uma cláusula no tratado que<br />
prevenisse contra tal hipótese. 20 A pressão diplomática obteve sucesso e o Governo<br />
peruano incluiu estipulação no tratado que vedava sua utilização para resolver<br />
questões que se suscitassem entre a Argentina e o Brasil, o que acabou por desinteressar<br />
Buenos Aires, deixando o pacto restrito ao Peru e a Bolívia. 21<br />
Ainda que, mesmo no auge das tensões e ameaças de alianças hostis, o Império<br />
se houvesse recusado a estabelecer qualquer tipo de pacto de aliança com o Chile,<br />
Santiago não abandonou a idéia de ter o auxílio brasileiro na hipótese de um conflito<br />
com a Argentina. A imagem de um eixo geopolítico Santiago-Rio de Janeiro, produzida<br />
nessa década de 1870, sobreviveria ao século XIX.<br />
Não havia, no entanto, interesses econômicos que lastreassem tal aliança e, no<br />
plano político, um acordo com o Chile tampouco despertava o entusiasmo das<br />
autoridades imperiais, pois tal passo só poderia atrair maiores desconfianças da<br />
Argentina, que se fortalecia em contraste com o Império em crescente crise. Ao Governo<br />
chileno, entretanto, convinha manter o rumor da existência de um tratado secreto<br />
entre os dois países ou, pelo menos, aparentar relações tão íntimas que pudessem<br />
fazer crer que o Brasil correria em auxílio do Chile no caso de um conflito com a<br />
Argentina.<br />
V . O Brasil e a Guerra do Pacífico (1879-1883)<br />
De 1879 a 1883 o continente sul-americano assistiu à Guerra do Pacífico, que<br />
retirou territórios da Bolívia e do Peru em favor do Chile, privou a Bolívia de sua saída<br />
para o mar e marcou um momento de grande hegemonia chilena no subsistema<br />
regional do pacífico sul-americano. Havia uma crescente a tensão entre o Chile e a<br />
Argentina que disputavam a soberania sobre a Patagônia, mas foi contra a Bolívia que<br />
o conflito foi deflagrado. Os interesses comerciais chilenos nas minas de salitre<br />
bolivianas precipitaram uma guerra contra a Bolívia em resposta à imposição de taxas<br />
às atividades dos investidores chilenos. Informado oficialmente por nota do Governo<br />
chileno, datada de 18 de fevereiro de 1879, justificando a invasão do território boliviano,<br />
o representante brasileiro em Santiago manifestou “o pesar com que o Governo imperial<br />
veria perturbada a tranqüilidade dos dois países amigos e a esperança de que o Governo<br />
chileno não poupará ainda os meios decorosos, a seu alcance, para afastar as