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Revista Cena Internacional

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48<br />

RELAÇÕES BRASIL ÁFRICA DO SUL:<br />

QUATRO DÉCADAS RUMO À AFIRMAÇÃO DE UMA PARCERIA DEMOCRÁTICA (1948-1998)<br />

Mário Vilalva & Irene Vida Gala<br />

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viabilidade do relacionamento com a África subsaárica, reduzindo o entusiasmo<br />

nacional exclusivamente pelo mercado sul-africano.<br />

O colapso do império colonial português, em 1974, alterou o quadro regional e<br />

as relações da África do Sul com o mundo. A vitória, pelas armas, dos movimentos de<br />

libertação nesses países estimulava os movimentos anti-aparteístas sul-africanos.<br />

Internamente a África do Sul ampliou a repressão, culminando, por exemplo, com o<br />

massacre do Soweto, em junho de 1976. No cenário internacional, assumia, nos EUA,<br />

o Governo Carter, que ampliou a pressão sobre Pretória em defesa dos direitos humanos<br />

e pela supressão do apartheid, alegando que a discriminação racial era a responsável<br />

por injustiças sociais e pela aproximação dos movimentos de libertação com o bloco<br />

soviético. A política da nova administração norte-americana permitiu reeditar, e desta<br />

vez com mais vigor, uma política multilateral, nas Nações Unidas, de pressão contra a<br />

África do Sul. Ampliaram-se as críticas da comunidade internacional e, em novembro<br />

de 1977, o Conselho de Segurança da ONU decretou o embargo compulsório de armas<br />

contra a África do Sul. O país encontrava-se isolado no cenário diplomático<br />

internacional, compelindo suas lideranças a aceitarem o lançamento de negociações<br />

para a independência da Namíbia, com a criação do Grupo de Contato63 .<br />

Neste contexto bastante adverso à África do Sul, a política externa do Governo<br />

Ernesto Geisel introduziu novos conceitos à diplomacia brasileira, com nítidos reflexos<br />

nas relações do Brasil com a África do Sul. O pragmatismo responsável de Geisel,<br />

voltado para a eficácia, movido pelo interesse nacional e direcionado para o<br />

desenvolvimento econômico e social, impunha também responsabilidade a um país<br />

que se dispunha a contatos internacionais mais ecumênicos e menos comprometidos<br />

com alinhamentos ideológicos. O momento requeria flexibilidade diplomática e ruptura<br />

com posições ideológicas tradicionais pró-Ocidente. A África pôde, a partir de então,<br />

se converter em uma prioridade, manifesta em discursos, viagens e demais atos<br />

bilaterais.<br />

O fim do colonialismo português permitiu que o discurso oficial brasileiro, com<br />

inegável apoio também de grupos de oposição interna ao regime Geisel e Figueiredo64 passasse a enfatizar, mais do que sempre, o apoio incondicional à autodeterminação,<br />

ao processo de descolonização, bem como à eliminação dos sistemas segregacionistas,<br />

dos quais o apartheid representava o exemplo mais flagrante65 . No plano político<br />

multilateral, o apoio às teses do grupo africano somou-se à participação brasileira na<br />

Conferência Mundial de Ação contra o Apartheid, realizada em Lagos, em 1977, e na<br />

Conferência Mundial de Combate ao Racismo e à Discriminação Racial, realizada em<br />

Genebra, em 1998. No tocante às sanções, o Brasil manteve-se contrário apenas àquelas<br />

referidas no artigo 42 da Carta da ONU, que consistiam no uso da força armada<br />

mediante ações navais, aéreas e terrestres66 .

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