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Revista Cena Internacional

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24 OS DILEMAS CIVILIZATÓRIOS DA GLOBALIZAÇÃO FRENTE AO TERRORISMO FUNDAMENTALISTA<br />

Eduardo Viola • Héctor Ricardo Leis<br />

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particularmente difícil de enfrentar (e de entender) pelo alto grau de discordância da<br />

política e cultura ocidental com as regras das sociedades islâmicas, em particular, e<br />

fundamentalistas religiosas, em geral.<br />

O islamismo é uma religião que não abre espaço nem contempla a realização<br />

de um projeto político particular. Por assim dizer, a sensibilidade islâmica se concentra<br />

muito mais em valores simbólicos que em aspectos concretos da realidade, em valores<br />

religiosos que em valores políticos. A rigor, o analista do mundo islâmico deve ter a<br />

coragem suficiente para perguntar-se até que ponto os valores que conformam esse<br />

mundo lhe permitem uma realização eficiente do Estado moderno. Durante o século<br />

XX, as principais potências ocidentais foram condicionadas por poderosas razões<br />

geopolíticas (primeiro, a ocupação da maior parte dos territórios do Oriente Médio,<br />

após a derrota do Império Otomano, e depois o controle das fontes de subministro de<br />

petróleo da região) e também por algum tipo de sentimento de culpa (por não ter feitos<br />

grandes esforços para garantir o cumprimento da Resolução 181 da Assembléia Geral<br />

das Nações Unidas, de 11 de novembro de 1947, referida à partição da Palestina entre<br />

um Estado judeu e um outro árabe e a internacionalização da cidade de Jerusalém)<br />

para “tapar o sol com a peneira”, negando-se a ir a fundo na questão islâmica.<br />

Tivemos que chegar até o ano 2001 para entender que existia um problema<br />

com o Islamismo e não apenas com grupos de terroristas palestinos que reivindicavam<br />

os territórios ocupados por Israel. Mesmo um sintoma de tremenda barbárie, como a<br />

condena a morte de um escritor considerado culpável de ter escrito “versos satânicos”<br />

(Salmon Rushdie), pareceu chamar a atenção de Ocidente apenas como fato aberrante<br />

isolado. Não pretendemos confundir o islamismo com o fundamentalismo islâmico,<br />

mas também não podemos simplificar o problema dizendo que não existe uma carga<br />

de barbárie no primeiro. O islamismo já não é mais um tema exclusivo dos maometanos,<br />

o mundo atual não permite mais este exclusivismo.<br />

O prêmio Nobel de Literatura de 2001, V. S. Naipaul, tinha provocado uma certa<br />

surpresa, a princípios dos anos noventa, quando comentou numa palestra que no<br />

islamismo a fé abole o passado anterior à conversão e que isso tinha enormes<br />

conseqüências civilizatórias (Naipaul, 2001). A explosão do pacífico Buda talhado na<br />

pedra da montanha, pelo Taleban, embora realizado por um regime fundamentalista,<br />

era um fato coerente e conseqüente com o islamismo. Essa fé que abole o passado e<br />

que coloca a Deus a governar os assuntos humanos, ao mesmo tempo em que facilita<br />

enormemente o crescimento das conversões nos países mais desenvolvidos de<br />

Ocidente, no limite, é produtora desse tipo de barbárie que encontramos nos<br />

seqüestradores dos aviões usados nos atentados de 11 de setembro.<br />

Uma resolução adequada do dilema civilizatório atual em relação ao islamismo<br />

obriga a um esforço de compreensão, por parte dos países ocidentais da especificidade

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