Revista Cena Internacional
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RELAÇÕES BRASIL ÁFRICA DO SUL:<br />
QUATRO DÉCADAS RUMO À AFIRMAÇÃO DE UMA PARCERIA DEMOCRÁTICA (1948-1998)<br />
Mário Vilalva & Irene Vida Gala<br />
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Desde esse momento, em que o Brasil se vê, pela primeira vez, perante as “duas<br />
portas” de abertura para a África31 , as relações Brasil – África do Sul se caracterizaram<br />
pela consciência de que, naquele continente, era preciso compatibilizar duas ordens<br />
de interesses: os econômicos e os políticos. Em outros termos, que seria preciso buscar<br />
a síntese dialética entre o compromisso com o desenvolvimento nacional, assente<br />
sobre o modelo exportador e de substituição de importações, e os valores assumidos<br />
pelo Brasil ao assinar a Carta das Nações Unidas e a Declaração dos Direitos Universais.<br />
Os primeiros deveriam ser preservados e mesmo expandidos, como forma de garantir<br />
o desenvolvimento brasileiro. Consequentemente, não se deveriam preterir as relações<br />
comerciais com a África do Sul. Em seu relatório do posto, do ano de 1961, o chefe da<br />
missão em Pretória escreveu:<br />
“Economicamente falando, diríamos que os interesses brasileiros na República da<br />
África do Sul, (...) são os mais sadios e, em termos de saldos para a nossa balança<br />
comercial, os mais elevados.”<br />
Pouco adiante, no mesmo relatório, reconhecia, porém, o interesse político em<br />
constituir e desenvolver relações de amizade com as nações africanas independentes,<br />
porque a PEI passou a buscar mais aproximação com países que, sobretudo nos foros<br />
internacionais, pudessem coordenar esforços para o estabelecimento de uma nova<br />
ordem econômica internacional e para a superação do subdesenvolvimento. Eis o<br />
texto:<br />
“Os interesses políticos do Brasil na África do Sul existem, evidentemente, no presente,<br />
mas sua potencialidade natural seria encontrada no futuro próximo, quando o país<br />
se encontrar a si mesmo, seja violenta, seja pacificamente.”<br />
As diferenças entre as percepções do Presidente Quadros e setores de oposição<br />
no Brasil, os quais prosseguiam defendendo, por exemplo, uma aliança exclusiva com<br />
os Estados Unidos e conseqüentemente com a África do Sul, em detrimento das novas<br />
opções da PEI, terão levado, entre outras razões, à renúncia de Jânio Quadros. O<br />
importante é registrar que as orientações da política externa do período Quadros<br />
forjaram as primeiras manifestações de um ecumenismo comercial que seria retomado<br />
nos anos 70, com a supremacia do modelo nacional-desenvolvimentista, de viés<br />
nacionalista, sobre os defensores do modelo de desenvolvimento associado32 .<br />
Ainda durante a implementação da PEI, mas já no Governo Goulart, o Brasil<br />
obtém, em 1962, o apoio sul-africano para sua candidatura ao Conselho de Segurança<br />
da ONU, durante a XVII Sessão. O Governo de Pretória buscava com isso apoio