25.08.2013 Views

Revista Cena Internacional

Revista Cena Internacional

Revista Cena Internacional

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

82<br />

A CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA INTERNACIONAL POLICÊNTRICO: ATORES ESTATAIS<br />

E NÃO-ESTATAIS SOCIETAIS NO PÓS-GUERRA FRIA<br />

Rafael Duarte Villa<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Uma outra limitação que encontra essa construção de uma cultura política<br />

universal trata-se de que, com a globalização da política, através do valor da democracia<br />

ocidental, trata-se exatamente de “neutralizar” e não de destruir ordens políticas de<br />

países que, em princípio, são mais amigos que inimigos. Isto é, num mundo polarizado<br />

ideologicamente – como aquele da Guerra Fria – valia a definição de Carl Schmidt<br />

segundo a qual a relação básica da política é a dicotomia amigo-inimigo (SCHMIDT,<br />

1992). Nesse campo de forças as posições intermediárias ficavam sobrando. Aliás,<br />

desde essa perspectiva analítica, com a globalização unidimensional da política, na<br />

base da crença no valor universal da democracia ocidental, um dos campos da metáfora<br />

política de Schmidt (o inimigo) tende a desaparecer. Por essa via também chegaríamos<br />

ao fim da política. Fora essa polêmica idéia, o relevante do caso é constatar que os<br />

atritos em torno do tema da democracia passam, atentando sempre à natureza pública<br />

do conceito e não a seu caráter privado, a uma luta no campo dos amigos. Ou, para<br />

utilizar uma metáfora da linguagem da guerra, os eventuais feridos desses confrontos<br />

estão sendo “atingidos pelo fogo amigo” e não pelo fogo inimigo.<br />

A própria idéia de que o estamos mesmo numa era do fim das ideologias, como<br />

sustenta o refinado argumento de Francis Fukuyama, encontra certas limitações. Sem<br />

concorrentes universais a democracia liberal impõe-se como imperativo categórico,<br />

decorrente da superioridade e coerência ética de seus postulados. Como o próprio<br />

Fukuyama reconhece, o grande problema desse argumento é que ele tem que ser levado<br />

a sério sempre que pensemos o mundo desde uma perspectiva racionalista e ideal,<br />

porque ainda se está muito longe de sua realização no mundo material. Para ficarmos<br />

num exemplo só, a China, que alberga 1/6 da população mundial, não parece ainda<br />

muito disposta a aceitar a superioridade material da idéia de democracia. Em outras<br />

palavras, é inegável que existe uma discrepância suficientemente não resolvida entre<br />

racionalidade ideal e racionalidade material.<br />

Aliás, esse debate valorativo não fica limitado ao escopo dos atores estatais ou<br />

das organizações internacionais estatais. Ele também permeia as relações entre atores<br />

de natureza estatal e não-estatal. Veja-se um exemplo: a capacidade das ONGs de<br />

coordenar e desenvolver projetos de desenvolvimento sustentável em comunidades<br />

do Terceiro Mundo não está isenta de um juízo valorativo: a pouca racionalidade do<br />

Estado nesse âmbito geográfico-político para o desenvolvimento de políticas<br />

democráticas que atendam as necessidades de seus cidadãos ou para desenvolver regras<br />

locais de good governance. Parte-se do princípio de que essas comunidades podem ser<br />

educadas a proteger seu meio ambiente, apontando para efeitos sociais e locais positivos<br />

que também resultam em benefícios e desdobramentos democráticos globais (cf. SHIVA,<br />

1991). Em termos mais concretos e quantitativos, um claro exemplo disso é a ONG

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!