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Revista Cena Internacional

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166<br />

O MUNDO DE OSCAR CAMILIÓN<br />

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○ Matias Spektor<br />

O alto perfil que o tema ganhara levava Camilión a crer que retomando o<br />

argumento da cooperação, Itaipu seria percebido como um “percalço” que valia a pena<br />

superar para garantir o sucesso de uma promissora amizade. Fazendo da postura<br />

brasileira de não negociar o demônio único a assombrar o bom relacionamento<br />

bilateral, o Itamaraty seria forçado a sentar-se à mesa e aceitar que o tema era uma<br />

jogada brasileira na cena internacional e que, portanto, não se limitava a uma opção<br />

de política interna que poderia passar tranqüilamente sem debate com os países<br />

limítrofes.<br />

Os meios que Camilión buscou para avançar a sua agenda excederam os limites<br />

da América do Sul. Assim, identificou a vitória de Carter para a Casa Branca como o<br />

estopim que facilitaria a negociação com os brasileiros. A chegada de Carter ao poder<br />

é acompanhada por uma medida imediata, qual seja o envio de seu secretário de estado<br />

Christopher a Brasília para dissuadir o Brasil dar continuidade a seu programa nuclear.<br />

Essa era a primeira vez no século XX em que o Brasil e os Estados Unidos tinham<br />

interesses abertamente conflitantes.<br />

Nessa conjuntura, a revista Veja entrevistava Camilión, que respondeu às<br />

indagações do semanário afirmando que para a Argentina o programa nuclear brasileiro<br />

era pacífico e, além de não constituir uma ameaça ao país, era possível pensar em<br />

coordenar as políticas nucleares de ambos. A declaração suscitou reações radicais. O<br />

Itamaraty recebeu o recado com profundo desagrado, posto que não sabia quais as<br />

intenções reais do mesmo. Buenos Aires quase demitiu seu embaixador, já que os<br />

militares pensavam que a Argentina poderia ser o país latino-americano a ter o<br />

monopólio da política nuclear na região. A imprensa brasileira reagiu positivamente,<br />

posto que o apoio argentino ao projeto nuclear brasileiro era uma credencial a mais<br />

para fazer frente ao que era entendido como imperialismo yankee face a uma potência<br />

média. Outra reação positiva foi a do embaixador Nogueira Batista, que presidia a<br />

Nuclebrás e estava convencido da necessidade de cooperação com a Argentina e o<br />

apoio dessa para fazer frente à pressão norte-americana.<br />

A semana subseqüente experimentou uma verdadeira guerra nos meios. O<br />

argumento de Camilión de que era mister reconhecer a existência de um conflito que<br />

devia ser negociado ganhou os editoriais da Folha de São Paulo, do Jornal do Brasil,<br />

três notas no Estado de São Paulo, uma nota em O Globo e uma coluna de Carlos<br />

Castelo Branco. A reação do Itamaraty foi colocar na chefia da assessoria de imprensa<br />

do Ministério o então secretário Luiz Felipe Lampreia. A postura publicista de Camilión<br />

quase valeu-lhe, por duas vezes, a declaração de persona non grata para o Brasil. Já no<br />

fim de sua gestão no ano de 1979, Camilión tinha um consagrado programa no rádio

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