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Revista Cena Internacional

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A CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA INTERNACIONAL POLICÊNTRICO: ATORES ESTATAIS<br />

E NÃO-ESTATAIS SOCIETAIS NO PÓS-GUERRA FRIA<br />

77<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ Rafael Duarte Villa<br />

é a própria natureza de organização internacional: isto é, a constituição<br />

predominantemente estatal da organização. Dada sua natureza, corresponde aos<br />

estados desempenhar o papel principal, o qual traz a conseqüência quase óbvia de<br />

que no seu funcionamento esse tipo de organização apresenta a dupla característica<br />

de representante de interesses estatais e de organismo que procura agir com um mínimo<br />

de identidade própria. Porém, a evidente tensão que se gera em torno de ambas funções<br />

acaba se resolvendo em favor da primeira. Não se deve esquecer de que esse tipo de<br />

organização e de atuação corresponde àquilo que Cox e Jacobson classificam na<br />

categoria de subsistemas representativos, “que são compostos pelas instâncias dos<br />

diferentes países, cujas interações (essencialmente nos próprios países) determinam a<br />

política perseguida pelos representantes de seu país no seio da organização em questão”<br />

(COX & JACOBSON, 1990, p. 392).<br />

Contudo, esses constrangimentos decorrentes da natureza estatal desse tipo de<br />

ator não impede o mínimo de funcionamento coordenado em temas de natureza global,<br />

sobretudo quando se trata de temas de natureza que escapam da segurança<br />

internacional estratégica ou militar. Dessa maneira, o debate realizado pelos atores do<br />

sistema internacional policêntrico, sobre temas societais globais, particularmente no<br />

plano interestatal, tem privilegiado o fórum da ONU 5 , no interior da qual alguns<br />

mecanismos institucionais, como o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio<br />

Ambiente) e o ECOSOL (Conselho Econômico e Social), gozam de uma relativa<br />

autonomia quanto à preparação de uma agenda social nos chamados temas globais.<br />

Essa agenda vem se materializando na realização de grandes conferências, como a<br />

Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), a Conferência<br />

Mundial sobre Direitos Humanos, a Conferência do Cairo sobre População e<br />

Desenvolvimento e a IV Conferência Mundial sobre a Mulher. Claramente, em todos<br />

esses casos a natureza dos temas em pauta não é militar mas societal, o que facilita a<br />

autonomia das agências intergovernamentais. Aqui novamente é de destacar que a<br />

ação dessas agências está longe de escapar da interação com outros planos do sistema<br />

internacional policêntrico. Nas arenas societais atores não-estatais dirigem com<br />

freqüência, com chances de sucesso, pressões aos atores interestatais. As pressões<br />

podem ser dirigidas a um subsistema intergovernamental como a ONU, o Banco<br />

Mundial, o Tratado Antártico, entre outros. Foi o caso da Antártida, no qual os atores<br />

ecológicos, representados pelo Greenpeace, agiram com muita eficácia – através da<br />

presença direta, mobilização da opinião pública e pesquisas – para influenciar o<br />

Protocolo de Madri, instrumento legal dos países do Tratado Antártico que congelou<br />

por 50 anos qualquer possibilidade de prospecção mineral na Antártida. Aliás, é<br />

interessante registrar que o Greenpeace é o único ator não-estatal que tem uma base<br />

de operações científicas na Antártida e o único que participa com status de parte não-

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