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Revista Cena Internacional

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42<br />

RELAÇÕES BRASIL ÁFRICA DO SUL:<br />

QUATRO DÉCADAS RUMO À AFIRMAÇÃO DE UMA PARCERIA DEMOCRÁTICA (1948-1998)<br />

Mário Vilalva & Irene Vida Gala<br />

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“seu mais ardente apelo ao Governo da África do Sul, no sentido de que procure<br />

examinar a possibilidade de uma contribuição positiva à implementação das decisões<br />

do Conselho de Segurança” 38 .<br />

Além dessa medida exortatória, o Brasil também sediou, em 1966, o Seminário<br />

<strong>Internacional</strong> sobre o apartheid, fato que justificou correspondência enviada pela SERE<br />

à Legação em Pretória, em julho de 1965, cujo conteúdo esclarece que<br />

“a princípio, foi a SERE contrária à idéia, receando que em tal Seminário pudessem<br />

ser levantadas moções contrárias à política e aos interesses nacionais, como seria<br />

qualquer resolução que recomendasse o rompimento de relações diplomáticas e<br />

comerciais com a África do Sul. Essa posição inicial, entretanto, foi modificada em<br />

face dos argumentos apresentados pela nossa missão junto à ONU que temia os<br />

profundos ressentimentos que uma negativa do Brasil despertaria no Grupo Africano,<br />

podendo mesmo provocar a falsa impressão de que teria havido uma mudança de<br />

posição do Brasil no trato da questão do apartheid”. 39<br />

Em 1965, o Chanceler Vasco Leitão da Cunha esclareceu à Comissão de Relações<br />

Exteriores do Senado Federal que a Legação em Pretória não fora elevada ao nível de<br />

Embaixada em razão da política aparteísta40 , mas que a manutenção de uma missão<br />

naquele país justificava-se<br />

“pela necessidade de manter naquela área de tensão internacional, um posto<br />

permanente de observação. (...) (Enquanto que) do ponto de vista econômico, a África<br />

do Sul (...) constitui o melhor mercado da África Subsaárica para as exportações<br />

brasileiras”. 41<br />

Os excertos acima de documentos oficiais revelam que, a despeito de o Brasil<br />

se engajar, após 1964, no que Carlos Estevan Martins chamou de “cruzada anticomunista”<br />

42 e, também, apesar de África do Sul acreditar na possibilidade de relações<br />

mais estreitas com o Brasil na área política e principalmente estratégica, em razão de o<br />

país estar submetido às lideranças militares43 , os fatos registrados no período que vai<br />

de 1964 a 1972 não demonstram que o Brasil buscasse qualquer cooperação com a<br />

África do Sul que escapasse ao estrito domínio dos interesses econômicos do país,<br />

traduzidos na diretriz presidencial de aumentar as exportações brasileiras44 e viabilizar<br />

o desenvolvimento econômico nacional. O momento internacional de distensão entre<br />

as superpotências, sobretudo a partir de finais dos anos 60, favorecia, ademais, a busca<br />

de opções não-alinhadas, a flexibilização diplomática e as tentativas de redução do<br />

grau de dependência brasileira no tocante aos Estados Unidos.

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