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Revista Cena Internacional

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OS DILEMAS CIVILIZATÓRIOS DA GLOBALIZAÇÃO FRENTE AO TERRORISMO FUNDAMENTALISTA<br />

Eduardo Viola • Héctor Ricardo Leis<br />

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Talvez o melhor exemplo desse qüiproquó sejam as críticas maximalistas da<br />

modernidade, realizadas por uma parte da intelligentsia da esquerda atual, que insistem<br />

em responsabilizar o capitalismo mundial por todos os males das sociedades nacionais<br />

periféricas, ou que transformam os atos terroristas do 11 de setembro em simples atos<br />

políticos contra o “império” americano (cuja responsabilidade, em última instância,<br />

cabe ao próprio Estado americano, que “provocou” ao resto do mundo com suas<br />

ambições hegemônicas). Além de confundir a realidade com o desejo, essas críticas<br />

maximalistas escondem o fato que foi o lado bárbaro da modernidade que produziu a<br />

barbárie do nazismo e do comunismo, e que foi o lado civilizado da modernidade que<br />

derrotou essas barbáries, assim como continua lutando contra novas e antigas barbáries<br />

que ainda assolam nosso mundo. Essas críticas pretendem também esconder o fato,<br />

evidente por si mesmo, de que hoje as sociedades mais civilizadas são aquelas onde o<br />

capitalismo se encontra em seus estágios mais avançados.<br />

Os comentários anteriores não supõem que o fator civilizatório deve ser<br />

identificado com a doutrina liberal, nem que os liberalismos (ou neoliberalismos)<br />

realmente existentes não estejam sujeitos a crítica, mas indicam com clareza que foram<br />

as sociedades liberais anglo-saxão, as que dentro da constelação de sociedades e<br />

movimentos históricos do século XX, se constituíram no equivalente das cidades-<br />

Estado da Antiga Grécia no mundo antigo. O dilema civilização ou barbárie não é<br />

uma opção entre duas utopias de diferente tipo, como pretendem às vezes alguns<br />

intelectuais de esquerda ou de direita. O fator civilizatório não tem signo ideológico<br />

(nem cultural), nem é propriedade de um determinado grupo social, Estado, nação ou<br />

tribo. O que impulsiona determinados grupos humanos (ao invés de outros) na direção<br />

da civilização é seu assentimento ao governo da lei, concebida como universal e<br />

racional, por cima de qualquer particularismo de sua vida social e cultural. 2 Especular<br />

sobre porque foram os gregos e os romanos e não os persas ou os chineses, os que<br />

possuíram este particular estado de espírito político na Antigüidade, nos levaria a um<br />

debate bizantino. O importante é constatar que aqueles que possuíram a consciência<br />

e a prática da universalidade da lei foram os que conseguiram impulsionar melhor<br />

pelo mundo afora o desenvolvimento do espírito em todas suas manifestações, desde<br />

a arte, a ciência e os esportes, até o direito, a guerra e a economia. O papel histórico do<br />

helenismo é um fato da mesma consistência que o papel histórico da modernidade<br />

anglo-saxã. Dizer que muitos atenienses acreditavam que os escravos tinham cérebro<br />

de criança, ou que muitos americanos são racistas, não nos impede de constatar que,<br />

num contexto comparativo (apesar dessas limitações e muitas outras), Atenas e os<br />

norte-americanos encarnam o espírito civilizador mais avançado de suas respectivas<br />

épocas.

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