Revista Cena Internacional
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O MUNDO DE OSCAR CAMILIÓN<br />
167<br />
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○ Matias Spektor<br />
no qual apresentava-se e comentava-se uma ópera inteira, ao que se seguiam ligações<br />
telefônicas do público.<br />
O clima negociador instalou-se em Brasília, e as conversas tripartites avançaram<br />
rapidamente. O Paraguai viu-se diante da possibilidade histórica de explorar a<br />
divergência entre seus dois grandes vizinhos e barganhou o seu apoio de forma a<br />
conseguir montar uma rede elétrica dual que lhe permitiria não ficar na dependência<br />
nem da oferta brasileira nem da argentina. A partir daí, a negociação fluiu rapidamente<br />
e somente seria paralisada no final do governo Geisel porque, contra a vontade de<br />
Silveira de assinar o acordo definitivo, a área energética representada pelo ministro<br />
Ueki decidiu instalar duas novas turbinas em Itaipu, o que alterava as proporções já<br />
negociadas para a hidrelétrica de Corpus, águas abaixo.<br />
Mas o ambiente para o acordo estava pronto. Por um lado Silveira saberia que a<br />
sua postura de independência face aos Estados Unidos poderia ser acompanhada por<br />
certo grau de conflito com a Argentina, mas que essa situação era excessivamente<br />
custosa para o Brasil. Essa era, também, a linha do argumento formalizada por Roberto<br />
Campos, um dos principais desafetos de Silveira na estrutura do Itamaraty.<br />
Pelo outro, o Exército brasileiro sugeriu o primeiro exercício militar conjunto<br />
com a Argentina, que se chamaria Operativo Fraterno. Para o autor, uma das causas<br />
dessa aproximação inusitada em 1977 teria caráter interno, sendo exemplo da clássica<br />
luta por proeminência entre o Exército e a Marinha em toda a América Latina. Além<br />
disso, um alto general brasileiro teria confidenciado a Camilión que a resolução do<br />
conflito com Buenos Aires era fundamental numa conjuntura em que a potencial<br />
aliança do Paraguai com seu vizinho ao sul poderia não somente ameaçar o Brasil<br />
mas também ameaçar o sucesso de um delicado empreendimento de natureza<br />
binacional. Se o Paraguai podia afetar o funcionamento da usina de alguma forma,<br />
isso se constituía como um problema de segurança para o Brasil. O Paraguai, que sempre<br />
fora pensado como uma área de influência, ganhava novo destaque para o pensamento<br />
militar brasileiro.<br />
Camilión afirma que em momento algum da sua missão de cinco anos em<br />
Brasília a Junta indicou-lhe como atuar. Como embaixador, gozou das vantagens de<br />
um processo decisório diplomático que valoriza a ação individual por oposição à<br />
postura corporativa que caracteriza a diplomacia brasileira. A estranha situação na<br />
qual o tema mais candente do relacionamento bilateral no século XX não tenha sido<br />
tratada em primeiro nível governamental e sim entre uma embaixada e o país onde<br />
estava acreditada trouxe, segundo Camilión, vantagens importantes para a Argentina.<br />
Isso teria se dado porque ele próprio gozava da possibilidade de atuar e escolher<br />
de acordo com a própria consciência em face de um adversário constrangido pela