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Revista Cena Internacional

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RELAÇÕES BRASIL ÁFRICA DO SUL:<br />

QUATRO DÉCADAS RUMO À AFIRMAÇÃO DE UMA PARCERIA DEMOCRÁTICA (1948-1998)<br />

Mário Vilalva & Irene Vida Gala<br />

55<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

VI. Conclusão<br />

As elites políticas brasileiras que se sucederam ao longo dos quarenta anos das<br />

relações diplomáticas do Brasil com a África do Sul aparteísta sustentavam visões<br />

nem sempre coincidentes sobre a identidade brasileira. Basicamente, alternavam-se<br />

as convicções entre uma identidade ocidental e as percepções matizadas pela referência<br />

à herança africana, já a partir das teses sociológicas de Gilberto Freyre, em meados dos<br />

anos 40, e a uma alegada identidade natural com a África, conforme os ideólogos do<br />

discurso culturalista. Isso parece ter sido relevante, como se tentou mostrar neste<br />

estudo, para justificar ou nortear as relações com a África, em geral, e com a África do<br />

Sul, em particular.<br />

Segundo Antonio Carlos Lessa88 , o caso da África do Sul é paradigmático dos<br />

relacionamentos excludentes que a diplomacia brasileira foi capaz de manter ao longo<br />

do século XX. Para tanto, o Governo brasileiro obrigou-se a fazer escolhas determinadas<br />

não apenas pelos objetivos definidos como sendo de interesse nacional, o qual se<br />

resume, desde os anos 30, na promoção do desenvolvimento econômico, mas também<br />

motivadas pelo que chama de “forças profundas”, cuja origem repousa em<br />

manifestações espontâneas da sociedade.<br />

Tendo em conta, portanto, as lições de Lessa, a percepção da identidade nacional<br />

seria uma força profunda que, em conjunto com o “oportunismo diplomático” 89 ,<br />

responsável pela busca constante de melhores opções para o desenvolvimento social<br />

e econômico interno, caracterizou a história das relações Brasil – África do Sul. A<br />

ausência de uma percepção constante e consensual sobre a identidade nacional levou<br />

a que se fizessem distintas escolhas de política externa, em diferentes momentos da<br />

vida interna e internacional, a despeito da constância na definição dos objetivos<br />

externos do país e do interesse nacional.<br />

A noção de oportunidades de natureza econômica abertas fora do eixo estrito<br />

da aliança ocidental, sobretudo a partir do fim da rígida bipolaridade dos anos 50 e 60,<br />

associou-se aos processos de revisão da identidade nacional e foram, ambos,<br />

promovendo ajustes nas escolhas internacionais do Brasil, entendidas, em geral, como<br />

ambigüidades da política externa brasileira no tocante às relações com a África do<br />

Sul.<br />

O exame dos movimentos dessa mesma política permite, todavia, propor que<br />

sejam tais movimentos entendidos como a adaptação possível, perante os objetivos<br />

nítidos e continuados do desenvolvimento nacional, decorrente da falta de consensos<br />

internos sobre as forças profundas que deveriam inspirar as relações exteriores do<br />

Brasil.

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