Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...
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M<strong>em</strong>ória <strong>em</strong> <strong>Movimento</strong><br />
Revista <strong>de</strong> Comunicaçao, Política e Direitos Humanos ano 1 n o 0 2 o s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2007<br />
SEMIÓTICA DA VIOLÊNCIA NA CULTURA BRASILEIRA<br />
Dacier <strong>de</strong> Barros e Silva 2<br />
Arthur Grupillo 3<br />
Introdução<br />
O filósofo e jurista Solón, por volta <strong>de</strong> 590 a.C., tendo sido<br />
perguntado sobre a maneira mais eficaz <strong>de</strong> diminuir os crimes <strong>em</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong>, disse: “Isso ocorrerá se eles causar<strong>em</strong> tanto ressentimento nas<br />
pessoas que não são vítimas dos mesmos quanto nas que são” (LAÊRTIOS,<br />
1987, p. 28). Por mais el<strong>em</strong>entar que pareça a sabedoria do filósofo,<br />
pod<strong>em</strong>os tecer elucubrações e aprofundar pontos singulares que a frase<br />
po<strong>de</strong> aludir. A linha <strong>de</strong> raciocínio conduzida por Solón diz respeito à<br />
interiorização <strong>de</strong> significados da natureza negativa do crime, por meio do<br />
sentimento <strong>de</strong> vítima. Em outras palavras, somente quando a socieda<strong>de</strong><br />
interioriza e interpreta o real significado dos valores, quer sejam positivos<br />
ou negativos – isso significa percebê-los <strong>de</strong> fato –, po<strong>de</strong>-se falar da<br />
apreciação individual dos mesmos.<br />
Ora, no que diz respeito à violência, <strong>de</strong> forma alguma a interiorização<br />
do seu significado será possível s<strong>em</strong> a interpolação s<strong>em</strong>iótica da natureza<br />
negativa dos fatos e estados. Somente se houver uma i<strong>de</strong>ntificação do<br />
crime enquanto crime e da ignorância <strong>de</strong> suas lacunas, que se pod<strong>em</strong> valer<br />
<strong>de</strong> seus significados socialmente aceitáveis, será possível a aplicação do<br />
exercício do b<strong>em</strong> pela Justiça. No entanto, os sinais a que se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> referir<br />
os fatos e estados moralmente inaceitáveis constitu<strong>em</strong>, para nós, um<br />
contingente <strong>de</strong> ruídos que intercepta muito b<strong>em</strong> as lacunas e as<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu preenchimento com valores positivos.<br />
Des<strong>de</strong> a monumental relação kantiana causa-conseqüência à<br />
plenitu<strong>de</strong> da lógica dialética, pareceu insuficiente o estudo para o<br />
2<br />
Dacier <strong>de</strong> Barros e Silva é Doutor <strong>em</strong> Sociologia do Desenvolvimento pela Friedrich Alexan<strong>de</strong>r Universität<br />
(Al<strong>em</strong>anha) e professor do Programa <strong>de</strong> Pós-graduação <strong>em</strong> Comunicação da <strong>UFPE</strong>.<br />
3<br />
Arthur Grupillo é aluno do Curso <strong>de</strong> Jornalismo da <strong>UFPE</strong> e bolsista CNPq/PIBIC.<br />
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