Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...
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M<strong>em</strong>ória <strong>em</strong> <strong>Movimento</strong><br />
Revista <strong>de</strong> Comunicaçao, Política e Direitos Humanos ano 1 n o 0 2 o s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2007<br />
conhece completamente o seu t<strong>em</strong>po e, portanto, já que compreen<strong>de</strong> o<br />
passado enquanto uma construção do presente, domina a História. Essa<br />
seria simplesmente uma linha que narra as experiências <strong>de</strong> todos.<br />
As socieda<strong>de</strong>s, entretanto, não são somente produtos <strong>de</strong> seus avanços<br />
técnicos, das mentes inspiradas <strong>de</strong> seus gran<strong>de</strong>s inventores. Todos esses<br />
sujeitos faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> expectativas construídas socialmente. Assim, só é<br />
possível inventar aquilo com que uma socieda<strong>de</strong> já é capaz <strong>de</strong> sonhar.<br />
Nenhuma outra inovação da revolução industrial incendiou tanto a<br />
imaginação quanto a ferrovia, como test<strong>em</strong>unha o fato <strong>de</strong> ter sido<br />
o único produto da industrialização do século XIX totalmente<br />
absorvido pela imagística da poesia erudita e popular (HOBSBAWM,<br />
1977, p.61).<br />
O espanto que a ferrovia po<strong>de</strong> ter causado naquelas socieda<strong>de</strong>s não se<br />
funda na magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua construção, na quilometrag<strong>em</strong> dos trilhos ou na<br />
velocida<strong>de</strong> – comparada aos trens <strong>de</strong> hoje, b<strong>em</strong> pequena – <strong>de</strong> suas<br />
locomotivas, mas enquanto materialização do novo. Se nos apresentávamos<br />
um mundo renovado, a ferrovia, enquanto meio <strong>de</strong> transporte que encurta<br />
medidas tidas como irreversíveis, seria a representação material <strong>de</strong> uma<br />
expectativa <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po; confirmaria a velocida<strong>de</strong> dos relógios e uma única<br />
ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong> para a socieda<strong>de</strong> industrial.<br />
A estrada <strong>de</strong> ferro, arrastando sua enorme serpente <strong>em</strong>plumada <strong>de</strong><br />
fumaça, à velocida<strong>de</strong> do vento, através <strong>de</strong> países e continentes,<br />
com suas obras <strong>de</strong> engenharia, estações e pontes formando um<br />
conjunto <strong>de</strong> construções que fazia as pirâmi<strong>de</strong>s do Egito e os<br />
aquedutos romanos e até mesmo a Gran<strong>de</strong> Muralha da China<br />
<strong>em</strong>pali<strong>de</strong>cer<strong>em</strong> <strong>de</strong> provincianismo, era o próprio símbolo do triunfo<br />
do hom<strong>em</strong> pela tecnologia (HOBSBAWM, 1977, p.61).<br />
O próprio historiador inglês parece suficient<strong>em</strong>ente entorpecido pelo<br />
fascínio das ferrovias. Assim, reflete muito pouco sobre um sujeito também<br />
renovado que t<strong>em</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico a concretização <strong>de</strong> uma<br />
expectativa <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. “Os <strong>de</strong>uses e os reis do passado eram impotentes<br />
diante dos homens <strong>de</strong> negócio e das máquinas a vapor do presente”<br />
(HOBSBAWM, 1977, p.69), não por ter<strong>em</strong> seu t<strong>em</strong>po encerrado,<br />
simplesmente, e, por isso, substituídos por um hom<strong>em</strong> supostamente ainda<br />
melhor e mais forte – o hom<strong>em</strong> do presente –, mas por fazer<strong>em</strong> parte <strong>de</strong><br />
outra seqüência-mo<strong>de</strong>lo, uma experiência <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po pautada <strong>em</strong><br />
expectativas diferentes <strong>de</strong>sse sujeito <strong>de</strong> negócios. A construção <strong>de</strong> novas<br />
expectativas <strong>de</strong> t<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong> no Brasil, a partir do final do regime militar<br />
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