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Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...

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M<strong>em</strong>ória <strong>em</strong> <strong>Movimento</strong><br />

Revista <strong>de</strong> Comunicaçao, Política e Direitos Humanos ano 1 n o 0 2 o s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2007<br />

afirmar que o autoritarismo presente na socieda<strong>de</strong> brasileira foi “apenas”<br />

com ele reforçado, tomando feições mais explícitas.<br />

O autoritarismo nessa socieda<strong>de</strong> se expressa, segundo Marilena<br />

Chauí (1989, p. 47-62), não só na intermitência da “concessão” <strong>de</strong> direitos<br />

políticos, sociais, econômicos e culturais à população nos vários períodos da<br />

história brasileira, mas também, e principalmente, na hierarquia que<br />

predomina nas relações sociais e pessoais, na ausência <strong>de</strong> distinção entre o<br />

público e o privado, na dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> efetivar o princípio formal e abstrato<br />

da igualda<strong>de</strong> perante a lei, na repressão às formas <strong>de</strong> luta e <strong>de</strong> organização<br />

sociais e populares, discriminação racial, sexual e <strong>de</strong> classe.<br />

Pod<strong>em</strong>os ir mais além e, seguindo o pensamento da autora,<br />

i<strong>de</strong>ntificar, a partir <strong>de</strong> uma matriz teológico-política, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

instituição e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> relações d<strong>em</strong>ocráticas no País. Para<br />

Marilena Chauí (1984, 28-30), a estrutura autoritária da socieda<strong>de</strong><br />

brasileira, baseada na forma como se realiza a divisão <strong>de</strong> classes – na qual<br />

n<strong>em</strong> as carências n<strong>em</strong> os privilégios consegu<strong>em</strong> se generalizar <strong>em</strong> interesse<br />

comum n<strong>em</strong> se universalizar <strong>em</strong> direito, s<strong>em</strong> abandonar as marcas da<br />

particularida<strong>de</strong> e da especificida<strong>de</strong> –, afasta a constituição da esfera pública<br />

da lei e do direito como fundamentos coletivos do po<strong>de</strong>r, mantendo, por<br />

isso mesmo, a teologia política.<br />

Não haveria espaço aqui para seguirmos com a análise sobre<br />

populismo como matriz teológica-política no Brasil, mas, talvez, não seja<br />

d<strong>em</strong>ais enfatizar que tal forma <strong>de</strong> expressão política só se torna possível<br />

quando o po<strong>de</strong>r se realiza afastando a mediação das instituições políticas,<br />

b<strong>em</strong> como por intermédio do estímulo a uma visão messiânica do<br />

governante, que é a forma pela qual as classes populares tradicionalmente<br />

tomam contato com a política: o <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> todas as esperanças <strong>em</strong> um<br />

salvador que antece<strong>de</strong>rá o juízo final (Id<strong>em</strong>, p. 24).<br />

A alimentação recíproca entre autoritarismo social e matriz teológica<br />

do po<strong>de</strong>r político encontrará, na década <strong>de</strong> 90, novo impulso, como<br />

ver<strong>em</strong>os mais adiante, com a consolidação do projeto neoliberal no País.<br />

Mas por hora basta assinalarmos que os meios <strong>de</strong> comunicação, ao t<strong>em</strong>po<br />

que tiveram seus papéis re<strong>de</strong>finidos, participaram <strong>de</strong>cisivamente da<br />

organização <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> - econômica, política, social e culturalmente.<br />

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