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Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...

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M<strong>em</strong>ória <strong>em</strong> <strong>Movimento</strong><br />

Revista <strong>de</strong> Comunicaçao, Política e Direitos Humanos ano 1 n o 0 2 o s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2007<br />

Havia, ainda, <strong>de</strong> acordo com o autor, a mórbida crença <strong>de</strong> que um<br />

hom<strong>em</strong> se curava da sífilis transmitindo-a a uma menina.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po, os significados <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> religiosa parec<strong>em</strong> ser os<br />

únicos que resist<strong>em</strong> a uma perversão mais acentuada; isto é, suas lacunas<br />

apresentam um nível relativo <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z, que não se dispõe facilmente à<br />

inclusão passiva <strong>de</strong> valores – não sendo, no entanto, imunes à autorida<strong>de</strong><br />

individual, já que a capela era uma simples extensão <strong>de</strong> um cômodo da<br />

casa gran<strong>de</strong>. Enquanto era fundamental a saú<strong>de</strong> religiosa do imigrante, com<br />

particular ódio a mouros e protestantes, a sífilis e a lepra, entre outras<br />

doenças, entraram livr<strong>em</strong>ente no País. Em Portugal, a religiosida<strong>de</strong> como<br />

fundamento <strong>de</strong>ssa agregação violenta <strong>de</strong> valores já está <strong>em</strong> íntima relação<br />

com o suplício como forma <strong>de</strong> castigo, apresentando uma s<strong>em</strong>iótica do<br />

crime completamente disforme. “Enquanto qu<strong>em</strong> adoestasse os santos e<br />

praticasse feitiçaria tinha a língua tirada pelo pescoço e era <strong>de</strong>gradado para<br />

s<strong>em</strong>pre para a África ou para o Brasil; pelo crime <strong>de</strong> matar, estuprar etc.<br />

bastava pagar <strong>de</strong> multa uma galinha” (FREYRE, 1964, p. 94).<br />

Mas, nenhuma <strong>de</strong>ssas representações <strong>de</strong> violência caracteriza mais<br />

fort<strong>em</strong>ente o que tentamos encontrar do que as formas <strong>de</strong> vida e cultura do<br />

índio brasileiro. A educação dos curumins era ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> significados<br />

violentos. Em danças, era comum observar figuras macabras, d<strong>em</strong>oníacas,<br />

a fim <strong>de</strong> amedrontar as crianças. Essas danças, muitas vezes, terminavam<br />

na morte <strong>de</strong> um dos indiozinhos - ritual com fim moral e pedagógico. As<br />

cantigas <strong>de</strong> ninar estão cheias <strong>de</strong> bichos, d<strong>em</strong>ônios, carrapatos. As crianças<br />

eram muitas vezes mutiladas, <strong>de</strong>sfiguradas para afastar os maus espíritos.<br />

Em certa ida<strong>de</strong>, o menino índio era segregado e submetido a provas <strong>de</strong><br />

iniciação tão rigorosas que muitas vezes causavam a morte. Cerimônias <strong>de</strong><br />

penitência e autoflagelação também eram muito comuns. Esses traços da<br />

cultura primitiva atestam não só a conciliação <strong>de</strong> opostos e a agregação <strong>de</strong><br />

valores culturais, mas práticas sociais naturalmente in<strong>de</strong>sejáveis como<br />

ainda o efeito pedagógico e moral por meio do castigo e da dor.<br />

Posteriormente, ainda, a insensibilida<strong>de</strong> do ameríndio à noção <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> roubo veio influenciar a relativa “suavida<strong>de</strong>” com que esse<br />

tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito era punido (FREYRE, 1964).<br />

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