Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...
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M<strong>em</strong>ória <strong>em</strong> <strong>Movimento</strong><br />
Revista <strong>de</strong> Comunicaçao, Política e Direitos Humanos ano 1 n o 0 2 o s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2007<br />
Por isso, avaliar a contribuição das CEBs se mostra tão importante.<br />
Além <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> influenciado vários movimentos populares, sindicatos<br />
urbanos e rurais e até mesmo partidos <strong>de</strong> oposição (BETTO, 1985, p.<br />
24/25), nelas, a comunicação popular nas ass<strong>em</strong>bléias, por meio do rádio<br />
ou <strong>de</strong> folhetins, foi muito praticada e estimulada. 11 Apesar <strong>de</strong> as CEBs<br />
ter<strong>em</strong> surgido com o objetivo <strong>de</strong> alcançar interesses específicos, concretos e<br />
imediatos da população (melhores condições <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> lazer<br />
etc), a participação <strong>de</strong> seus integrantes, na maioria <strong>de</strong>las, era formulada<br />
como prática transformadora <strong>em</strong> que se preparava para o acesso aos<br />
processos <strong>de</strong>cisórios, perpassando os limites da comunida<strong>de</strong>. Nessas<br />
práticas, não se pretendia dicotomizar a participação, reforçar a i<strong>de</strong>ologia<br />
dominante, provocar uma mudança cultural dirigida, integrar os grupos<br />
marginais ao sist<strong>em</strong>a vigente, ou subsidiar – com trabalho gratuito – os<br />
planos oficiais. Ao invés disso, realizava-se um trabalho <strong>de</strong> conscientização<br />
e organização das classes subalternas, tendo <strong>em</strong> vista a conquista <strong>de</strong><br />
espaço político e pressão por mudança das estruturas globais da socieda<strong>de</strong>.<br />
Nos anos 90, ver<strong>em</strong>os alguns dos integrantes <strong>de</strong>ssas CEBs e da Ação<br />
Popular (AP) migrar<strong>em</strong> para o movimento das rádios comunitárias, como foi<br />
o caso <strong>de</strong> Sebastião Santos, um dos fundadores da Associação Brasileira <strong>de</strong><br />
Rádios Comunitárias.<br />
Contudo, na transição d<strong>em</strong>ocrática esse “amadurecimento” das bases<br />
e suas reivindicações <strong>de</strong> participação política serão reinterpretados <strong>em</strong> um<br />
projeto <strong>de</strong> uma “d<strong>em</strong>ocracia participativa, comunitária ou fe<strong>de</strong>ralista”, tal<br />
como propôs o senador Franco Montoro (1982), no qual o “povo” seria a<br />
comunida<strong>de</strong> nacional feita da integração <strong>de</strong> todas as comunida<strong>de</strong>s menores<br />
- o Estado apenas uma instituição entre outras. Dessa forma, também a<br />
<strong>em</strong>presa seria uma comunida<strong>de</strong>, tal como as outras, na qual todos <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
po<strong>de</strong>r participar das <strong>de</strong>cisões que se refiram ao interesse comum, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que, claro está, cada m<strong>em</strong>bro cumpra com responsabilida<strong>de</strong> a função que<br />
lhe foi atribuída.<br />
Além da comunicação popular praticada nas CEBs, as rádios livres,<br />
especialmente <strong>em</strong> São Paulo, foram dos últimos movimentos a aparecer<br />
11 Em 1981 estimava-se que existiam aproximadamente 80.000 CEBs que se<br />
concentravam principalmente nas regiões rurais e nas periferias pobres das<br />
cida<strong>de</strong>s. ALVES, 1989, p. 231.<br />
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