Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...
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M<strong>em</strong>ória <strong>em</strong> <strong>Movimento</strong><br />
Revista <strong>de</strong> Comunicaçao, Política e Direitos Humanos ano 1 n o 0 2 o s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2007<br />
manutenção <strong>de</strong> interesses das classes dominantes? Se as ban<strong>de</strong>iras<br />
levantadas pela esquerda tradicional – <strong>de</strong>senvolvimento do aparelho estatal<br />
e nacionalismo – ruíram com o golpe militar, <strong>de</strong>spertando-se para o<br />
autoritarismo interno das organizações e para a estreiteza <strong>de</strong> tal projeto,<br />
não seria o caso <strong>de</strong> relativizar a pertinência da dicotomia socieda<strong>de</strong><br />
civil/Estado e, mais, s<strong>em</strong> que isso implique <strong>em</strong> ce<strong>de</strong>r a um <strong>de</strong>terminismo<br />
economicista, que a dimensão da formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos atores<br />
coletivos não é in<strong>de</strong>terminada? 6<br />
Tanto aqui como alhures, a tendência <strong>de</strong> se etiquetar as práticas<br />
sociais coletivas <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> “antes” e “<strong>de</strong>pois”, <strong>em</strong> prejuízo do enfoque<br />
dialético mais atendo às rupturas e continuida<strong>de</strong>s operadas na<br />
complexificação social e nas formas <strong>de</strong> teorizá-las, dará muitas vezes<br />
margens a uma concepção estrita e formal do Estado, tal como se<br />
acusavam os movimentos “antecessores”, ao mesmo t<strong>em</strong>po enfraquecerá a<br />
m<strong>em</strong>ória das lutas <strong>de</strong> <strong>em</strong>ancipação e, com ela, se relegará uma série <strong>de</strong><br />
questões que, suscitadas <strong>em</strong> época distinta, po<strong>de</strong>riam iluminar probl<strong>em</strong>as<br />
“cont<strong>em</strong>porâneos”. Especialmente no que se refere aos “novos”<br />
movimentos sociais <strong>de</strong> certos países europeus, um caso ex<strong>em</strong>plar é o lugar,<br />
que segundo Lênin (1973, p. 37), o jornal Iskra <strong>de</strong>veria ocupar no<br />
movimento operário e na luta contra a burguesia. Isto é, não apenas como<br />
propagandista e agitador coletivo, mas especialmente como organizador<br />
coletivo, influindo <strong>de</strong>cisivamente na construção simbólica da mobilização<br />
<strong>de</strong>sses agentes.<br />
Da mesma forma, a ênfase nos “novos” movimentos sociais e na<br />
proliferação das lutas político-sociais freqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>ixou à sombra<br />
questões cruciais, tais como as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> persistência dos<br />
movimentos <strong>em</strong> atuar não apenas <strong>de</strong>fensivamente, mas também intervindo<br />
na correlação <strong>de</strong> forças dos sist<strong>em</strong>as políticos dominantes (o que colocaria<br />
<strong>em</strong> questão o grau <strong>de</strong> autonomia <strong>de</strong>sses movimentos); a presença <strong>de</strong><br />
práticas antid<strong>em</strong>ocráticas internas e as conseqüências práticas <strong>de</strong> ter<strong>em</strong><br />
sido legitimados como interlocutores do Estado. Quanto a este último<br />
aspecto, chama a atenção o fato <strong>de</strong> que, na medida <strong>em</strong> que são<br />
reconhecidas como interlocutoras do Estado, as d<strong>em</strong>andas dos movimentos<br />
6 Para uma discussão sobre os paradigmas dos “novos” movimentos sociais e suas<br />
contribuições para analisar os movimentos brasileiros ver GONH, 1997.<br />
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