Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...
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M<strong>em</strong>ória <strong>em</strong> <strong>Movimento</strong><br />
Revista <strong>de</strong> Comunicaçao, Política e Direitos Humanos ano 1 n o 0 2 o s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2007<br />
mecânico do sujeito anônimo e onipresente <strong>em</strong> que se transformara o<br />
jornalista. Assim, freqüent<strong>em</strong>ente, nos <strong>de</strong>paramos com peças jornalísticas<br />
da época – e também <strong>em</strong> nossos dias – utilizando-se da névoa simbólica<br />
construída pelo discurso da neutralida<strong>de</strong> para apontar, a partir <strong>de</strong> imagens,<br />
sons, cores e vozes, nomes, corpos <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po que ainda sofre com a<br />
herança do regime militar.<br />
Séries jornalísticas – da qual a retomada do caso do atentado a bomba<br />
no Aeroporto dos Guararapes, <strong>em</strong> 1966, faz parte – sobre passagens do<br />
regime militar tornaram-se freqüentes, confirmando, ao mesmo t<strong>em</strong>po, o<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> um País cada vez mais livre daqueles anos <strong>de</strong> ditadura e um tom<br />
novo para o sentido <strong>de</strong> justiça dos jornais, agora supostamente neutros.<br />
Assim, os gran<strong>de</strong>s veículos <strong>de</strong> mídia ven<strong>de</strong>riam milhares <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plares<br />
estampando fotos <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nados públicos, culpados por crimes contra a<br />
nacionalida<strong>de</strong> – a corrupção, por ex<strong>em</strong>plo – e, no dia seguinte, corrigiria<br />
tudo o que fosse preciso. Não seria necessária a preocupação com o ônus<br />
da edição do dia anterior, pois a velocida<strong>de</strong> do novo t<strong>em</strong>po seria<br />
responsável por uma confusão <strong>de</strong> imagens cujos sentidos seriam<br />
organizados pelas indústrias <strong>de</strong> notícia.<br />
A reprodução mecânica do t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> nossos dias é, <strong>de</strong>ssa forma,<br />
freqüent<strong>em</strong>ente, caracterizada por aberturas e encerramentos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>pos<br />
que não se faz<strong>em</strong> <strong>em</strong> datas e nomes. O caso do atentado a bomba no<br />
aeroporto – <strong>de</strong>ntro do fenômeno “regime militar brasileiro” – é, <strong>em</strong> diversas<br />
perspectivas, um bom ex<strong>em</strong>plo disso. A construção <strong>de</strong> Edinaldo Miranda e<br />
Ricardo Zarattini enquanto terroristas, máxima reproduzida com freqüência<br />
pelos jornais recifenses na década <strong>de</strong> 60, edifica uma <strong>de</strong>ssas or<strong>de</strong>ns<br />
t<strong>em</strong>porais estruturadas a partir <strong>de</strong> uma operação, <strong>de</strong> uma seqüênciamo<strong>de</strong>lo.<br />
Esta faz ser compreensível a responsabilização dos dois jovens<br />
engenheiros pela explosão da bomba que vitimou duas pessoas e feriu<br />
algumas outras.<br />
Essa passag<strong>em</strong> é registrada como uma peça t<strong>em</strong>poral do regime<br />
militar que não po<strong>de</strong> ser questionada ou modificada (figura 1). A lei da<br />
anistia parece reforçar esse princípio, transformando aqueles pouco mais <strong>de</strong><br />
vinte anos <strong>em</strong> duas décadas mudas, presas <strong>em</strong> um t<strong>em</strong>po supostamente<br />
esquecido, obliterado das m<strong>em</strong>órias coletivas. Para isso, construímos a idéia<br />
<strong>de</strong> que o presente é a marca <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po que impera sobre qualquer outro<br />
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