15.10.2014 Views

Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...

Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...

Memória em Movimento - UFPE - Universidade Federal de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

M<strong>em</strong>ória <strong>em</strong> <strong>Movimento</strong><br />

Revista <strong>de</strong> Comunicaçao, Política e Direitos Humanos ano 1 n o 0 2 o s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2007<br />

dispositivo muito mais refinado para conquistar não só o consentimento,<br />

mas, principalmente, a a<strong>de</strong>são dos setores populares a um mecanismo <strong>de</strong><br />

“saída da crise”, que já se vinha surtindo efeitos extra muros.<br />

3.3. A funcionalização dos <strong>de</strong>svios<br />

Dos anos 80, costuma-se dizer no Brasil que foi uma década perdida,<br />

privilegiando nesta qualificação apenas os aspectos econômicos <strong>de</strong> uma<br />

conjuntura nacional grave, que se expressava na estagnação do<br />

crescimento econômico e no agravamento das condições <strong>de</strong> vida da<br />

população. Contudo, para que se pu<strong>de</strong>sse dar alcance real à situação que o<br />

País vivia naquele momento e, a partir daí, formular caminhos para seu<br />

equacionamento, seria necessário especificar <strong>de</strong> ant<strong>em</strong>ão a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssas perdas e, só então, qu<strong>em</strong> seriam os que <strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> ganhar.<br />

Foram questionamentos como esses que uma certa noção <strong>de</strong> “crise” 12<br />

abafou e cujo uso político tornou possível, <strong>de</strong>ntre outros fatores, a<br />

construção <strong>de</strong> um projeto nacional liso e s<strong>em</strong> fissuras, que só mostraria sua<br />

verda<strong>de</strong>ira face nos anos <strong>de</strong> 1990. O tratamento indiferenciado da crise,<br />

afirmando-se que se tratava <strong>de</strong> uma questão que afeta toda socieda<strong>de</strong><br />

brasileira e que <strong>de</strong>la se requer frentes indiferenciadas <strong>de</strong> ação, aponta para<br />

a diluição <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> classe <strong>em</strong> favor <strong>de</strong> modos operativos <strong>de</strong><br />

enfrentamento da crise, que implicam consensos <strong>de</strong> classe (FERNANDES,<br />

2000).<br />

Assim, a luta pela socialização do po<strong>de</strong>r político, levada a cabo nos<br />

últimos anos da ditadura e do período <strong>de</strong> transição, parece ter sido<br />

direcionada para um <strong>de</strong>sses modos conjunturais e operativos <strong>de</strong><br />

enfrentamento da crise, as divisões sociais e os diferentes interesses<br />

expressos na cena pública, camuflando as contradições e os impactos<br />

diferenciados da crise sobre as classes sociais. Ora, se a socieda<strong>de</strong> é<br />

percebida como uma formação que contém apenas divisões, cujo<br />

funcionamento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria da harmonização <strong>de</strong> cada uma das partes e<br />

<strong>de</strong>las entre si, t<strong>em</strong>porariamente submetidas a uma <strong>de</strong>sord<strong>em</strong> ou <strong>de</strong>svio, a<br />

restauração <strong>de</strong> sua funcionalida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria ser resolvida por meio <strong>de</strong> ajustes<br />

12 A respeito da imag<strong>em</strong> da “crise” como t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mobilização popular consultar<br />

CHAUI, 1985.<br />

59

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!