CLIPPING DO IBRAC N.º <strong>36</strong>/<strong>2011</strong> 12 a 30 de setembro de <strong>2011</strong>(Reportagem de Sérgio SpagnuoloMARFRIG PISA NO FREIO E VENDE ATIVOSEmpresa começa a vender operações para reduzir dívidas, enquanto bancos e concorrentes discutemalternativas para o setor de frigoríficos no PaísRaquel Landim, Fernan<strong>do</strong> Scheller e David Friedlander - O Esta<strong>do</strong> de S.PauloDepois de anos compran<strong>do</strong> empresas no Brasil e no exterior, a ponto de formar a quarta maior indústria decarnes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, o frigorífico Marfrig inverteu o sinal. O grupo anunciou ontem a venda da divisão delogística da americana Keystone para a Martin Brower, por US$ 400 milhões. No Brasil, o Marfrig tambémbusca se desfazer de um terminal que tem no porto de Itajaí, em Santa Catarina.São os primeiros passos <strong>do</strong> Marfrig para reduzir uma dívida que incomoda o merca<strong>do</strong>. Mais <strong>do</strong> que isso, asoperações podem fazer parte de um processo maior - está em curso uma negociação delicada, que corre nomais absoluto sigilo e, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> rumo que tomar, pode provocar uma reviravolta no setor de frigoríficosno Brasil.A operação envolveria a venda e a troca de negócios entre Marfrig, Brasil Foods (BRF), Minerva e, numahipótese neste momento mais remota, até o JBS. Essa reorganização pode se tornar necessária porque o setorenfrenta o pior momento <strong>do</strong>s últimos anos. Com a alta <strong>do</strong> preço <strong>do</strong> boi, JBS, Marfrig e Minerva tiveram forteaumento de despesas, que consumiram parte <strong>do</strong> capital de giro, deixan<strong>do</strong> suas dívidas mais pesadas.A situação parece mais complicada para o JBS e o Marfrig, que se endividaram fortemente para financiar umaagressiva política de aquisições. O JBS já foi muito questiona<strong>do</strong> e começou a reduzir investimentos ereorganizar a companhia. O merca<strong>do</strong>, agora, voltou os olhos para o Marfrig.Castiga<strong>do</strong> pelos investi<strong>do</strong>res, o Marfrig vale hoje na bolsa R$ 2,7 bilhões, menos da metade <strong>do</strong> seu patrimôniolíqui<strong>do</strong> e quase quatro vezes menos que a sua dívida total. Diante <strong>do</strong> cenário preocupante, os principaiscre<strong>do</strong>res começaram a conversar com a concorrência, sugerin<strong>do</strong> a venda ou a troca de ativos entre o Marfrig eas outras empresas.Segun<strong>do</strong> apurou o Esta<strong>do</strong>, representantes de Itaú, Bradesco e Santander já sentaram para tratar <strong>do</strong> assunto comos <strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s frigoríficos. Executivos das empresas também trocam informações. To<strong>do</strong>s negam a existência deuma ação organizada, mas explicam que discutem alternativas caso a situação <strong>do</strong> setor fuja <strong>do</strong> controle. "Deto<strong>do</strong>s os bancos com que temos relacionamento, nunca houve um pedi<strong>do</strong> para eu vender ativos", disse MarcosMolina, funda<strong>do</strong>r e presidente <strong>do</strong> Marfrig.Não é que Molina rejeite totalmente a ideia de vender ativos - até já iniciou esse processo com a operação deontem. Antes de fechar com a Martin Brower, já tinha negocia<strong>do</strong> a entrada <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> de investimentos Gávea,<strong>do</strong> ex-presidente <strong>do</strong> BC Armínio Fraga, na Keystone - as conversas, porém, não prosperaram.O <strong>do</strong>no <strong>do</strong> Marfrig diz que a venda <strong>do</strong> braço de logística da Keystone saiu porque se encaixa em sua estratégiade se desfazer apenas de negócios que estão fora <strong>do</strong> foco principal, que é a industrialização de carne. Noentanto, as hipóteses aventadas pelos cre<strong>do</strong>res vão além disso.Oportunidade. A necessidade da BRF de vender um pacote de ativos para cumprir as ordens <strong>do</strong> ConselhoAdministrativo de Defesa Econômica (Cade) e aprovar a fusão entre Sadia e Perdigão abriu oportunidades.Com as fábricas, marcas e centros de distribuição da concorrente, o Marfrig poderia <strong>do</strong>brar o tamanho daSeara - seu braço de venda de processa<strong>do</strong>s de frango e suínos no merca<strong>do</strong> interno.A Seara já passou pelas mãos de Cargill e Bunge, e sempre teve problemas de marca e distribuição. Aempresa é estratégica para Molina, que tem planos de transformá-la em marca global. Desde que foicomprada, porém, não ultrapassa 8% de participação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> brasileiro, apesar de pesa<strong>do</strong>s investimentos.O problema é que o empresário não tem dinheiro sobran<strong>do</strong> no caixa ou capacidade de endividamento paracomprar os ativos da BRF. Segun<strong>do</strong> fontes próximas à Brasil Foods, se não houver outra alternativa, aempresa poderia fazer uma troca. O Marfrig ficaria com o pacote da BRF e entregaria a Quickfood, naArgentina, e Moy Park, na Europa. A Keystone não está no radar da Brasil Foods. Molina não descarta onegócio, mas diz que precisa analisar com cuida<strong>do</strong> os ativos da concorrente.A negociação entre Marfrig e BRF não é simples e há discordâncias de valores. Pelas estimativas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>,Quickfood e Moy Park valeriam juntas R$ 700 milhões. Nas contas da BRF, o pacote de seus ativos custariamais de R$ 1 bilhão - número questiona<strong>do</strong> por analistas.Outra alternativa, também tratada em conversas reservadas, seria a venda ou a fusão <strong>do</strong> abate de bois deMarfrig e JBS ou Marfrig e Minerva. Como as margens dessa atividade são apertadas, o ganho de escala e assinergias melhorariam a rentabilidade. Sempre afável, Molina se irrita quan<strong>do</strong> ouve a hipótese: "Outro dia umamigo ligou e perguntou se já tinha fecha<strong>do</strong> negócio com o Minerva. Não faz nenhum senti<strong>do</strong>".Rua Card oso d e Alm eida 7 8 8 cj 1 2 1 Cep 0 50 1 3 -00 1 São P aulo -SP Tel Fax 0 1 1 3 8 7 2 -2 60 9 / 3 67 3 -6 74 8www.ib rac.org.br email: i b r ac@ibrac.org.b r58
CLIPPING DO IBRAC N.º <strong>36</strong>/<strong>2011</strong> 12 a 30 de setembro de <strong>2011</strong>A fusão entre o JBS e o Marfrig é complicada, porque provocaria forte concentração na compra de ga<strong>do</strong> edificilmente seria aprovada no Cade. Fontes ligadas ao JBS dizem que a empresa está consolidan<strong>do</strong> suasaquisições e, a princípio, não teria interesse.Para juntar o abate de bois de Marfrig e Minerva, seria preciso equacionar as altas dívidas <strong>do</strong>s <strong>do</strong>isfrigoríficos. Numa eventual venda, o Minerva assumiria parte <strong>do</strong> débito <strong>do</strong> Marfrig, desde que não fossemuito eleva<strong>do</strong>. Fontes próximas ao Minerva dizem que a empresa está aberta a estudar o negócio, mas "nãoquer trazer problema para dentro de casa".De qualquer forma, o abate de bois já não é mais o negócio central <strong>do</strong> Marfrig. A empresa hoje aposta suasfichas em produtos industrializa<strong>do</strong>s, segmento em que a carne de frango, mais barata, é <strong>do</strong>minante.Recentemente, fechou duas plantas no sul <strong>do</strong> País, equivalentes a 20% da capacidade de produção de bovinos.Molina descarta a venda <strong>do</strong> seu abate de bois e se mostra bastante seletivo em relação aos negócios queaceitaria vender. Os bancos sugerem várias alternativas porque inundaram os frigoríficos com dinheiro numafase de forte crescimento <strong>do</strong> crédito no Brasil, antes da crise de 2008.Segun<strong>do</strong> fontes de merca<strong>do</strong>, Banco <strong>do</strong> Brasil, Itaú, Bradesco e Santander têm, juntos, cerca de R$ 5 bilhões noMarfrig. O BNDES aplicou outros R$ 3,5 bilhões, entre financiamentos e compra de participação. Hoje, ocenário mu<strong>do</strong>u. Temerosos, os bancos fecharam as torneiras de dinheiro novo e o BNDES está cada vez maisreticente em assumir o ônus político de investir mais nos frigoríficos.Bola preta. No merca<strong>do</strong> financeiro, aparecem avaliações mais severas sobre o Marfrig, especialmente porcausa <strong>do</strong> alto endividamento - hoje, a dívida total da empresa supera R$ 10 bilhões. O grupo sustenta que esteé um patamar administrável e que tem dinheiro para cumprir suas obrigações de curto prazo.Ainda assim, a Raymond James apontou suas ações como a "bola preta" <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> - uma alusão ao jogo desinuca em que não se pode encaçapar a bola preta. Traduzin<strong>do</strong>: para a consultoria americana, é o único papelda bolsa brasileira que os investi<strong>do</strong>res devem evitar a qualquer custo.Desde o início <strong>do</strong> ano, as ações <strong>do</strong> Marfrig caíram 41% - movimento magnifica<strong>do</strong> pela crise internacional epela quebra <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> GWI, que investiu pesa<strong>do</strong> na empresa. Hoje, os títulos da dívida <strong>do</strong> Marfrig pagam juro11% acima <strong>do</strong>s títulos <strong>do</strong> Tesouro <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s - o mais alto de uma empresa brasileira, segun<strong>do</strong> aBloomberg. Nas contas <strong>do</strong>s analistas, o Marfrig consome por trimestre R$ 300 milhões a R$ 600 milhões decaixa, o que eleva a alavancagem. No último trimestre, esse indica<strong>do</strong>r, que mede a relação de dívida líquida elucro antes de impostos, juros e amortizações (Ebitda), chegou a 3,9.Relatório <strong>do</strong> Goldman Sachs aponta que, desde a abertura de capital, o Marfrig nunca teve geração de caixapositiva excluí<strong>do</strong>s os investimentos. Até companhias muito rentáveis têm perío<strong>do</strong>s curtos em que o indica<strong>do</strong>ré negativo, por causa de concentração de investimentos. Para os especialistas, o problema é que o Marfrig sócrescia, sem dar retorno. A venda <strong>do</strong> braço de logística da Keystone pode ser um sinal de que as prioridadesmudaram.O ESTADO DE SÃO PAULO DE 20 DE SETEMBRO DE <strong>2011</strong>ANAC APROVA COMPRA DA WEBJET PELA GOLREUTERSA diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aprovou nesta terça-feira com restrições a comprada Webjet pela Gol.Segun<strong>do</strong> a Anac, o que foi aprova<strong>do</strong> foi a gestão financeira da Webjet pela Gol. As operações das duasempresas, porém, continuam separadas até que seja feito um outro pedi<strong>do</strong> de aprovação para a união total dasmarcas.A Gol anunciou no início de julho a compra da Webjet, em uma operação de 311 milhões de reais que incluidívida de cerca de 200 milhões. A transação precisa passar ainda pelo Conselho Administrativo de DefesaEconômica (Cade).A Gol voltou à liderança <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico de aviação no mês passa<strong>do</strong>, mas se manteve bastante próximada TAM, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s divulga<strong>do</strong>s nesta terça-feira pela Anac.De acor<strong>do</strong> com a agência regula<strong>do</strong>ra, a participação de merca<strong>do</strong> da Gol avançou de 38,62 por cento em agostode 2010 para 38,84 por cento no mês passa<strong>do</strong>. A taxa de ocupação da companhia ficou em 69,64 por cento,avanço ante os 67,75 por cento no mesmo mês de 2010.A TAM, por sua vez, teve sua participação de merca<strong>do</strong> recuan<strong>do</strong> de 43,14 por cento para 38,37 por cento, namesma base de comparação. A taxa de ocupação da companhia também cedeu: de 68,83 por cento em agosto<strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong> para atuais 64,27 por cento.(Reportagem de Leonar<strong>do</strong> Goy)Rua Card oso d e Alm eida 7 8 8 cj 1 2 1 Cep 0 50 1 3 -00 1 São P aulo -SP Tel Fax 0 1 1 3 8 7 2 -2 60 9 / 3 67 3 -6 74 8www.ib rac.org.br email: i b r ac@ibrac.org.b r59