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A semente foi plantada

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Plantando a <strong>semente</strong>O coronelismo, a relação patrão-cliente entre os camponeses e os donos deterras, era especialmente típica do período conhecido como Primeira República(1889-1930). 8 Em razão da representação proporcional, a lei brasileira deu aocampo, comparativamente mais populoso, mais deputados estaduais do que àsáreas urbanas. As mesmas leis eleitorais restringiam o direito de votar aos alfabetizados,e, como o analfabetismo rural era alto, a maioria dos trabalhadores ruraisficou de fora do processo eleitoral. A lei os contava como número, mas os desconsideravacomo votantes. Alegaram que os coronéis de Ribeirão eram entre osmais efetivos no controle do voto, deixando só 1.800 de 80 mil habitantes ficareleitores, quando comunidades bem menores registraram bem mais cidadãos. Aclasse dominante rural alfabetizada, naturalmente usou das altas estatísticas dapopulação rural para eleger legisladores que atendessem aos seus interesses. 9O analfabetismo dos camponeses tem sido ligado ao aumento geral damigração rural para as cidades para explicar o populismo brasileiro e a “experiênciademocrática” de 1945 a 1964, conhecida por República Populista.Este argumento apenas tem reforçado a imagem negativa do trabalhador rural.Os trabalhadores agrícolas têm sido vistos não só como analfabetos, mas tambémcomo ignorantes e, por isso, membros politicamente impressionáveis peloscenários urbanos para onde eles migram em número crescente nos anos de1940, 1950 e 1960. 10 Eles presumiam falta de conhecimento especializado de8O relato mais completo da política dos municípios brasileiros ainda é a de Vitor Nunes LEAL.Coronelismo: The Municipality and Representative Government in Brazil. New York: CambridgeUniversity Press, 1977. Sobre Ribeirão Preto especificamente, há um estudo detalhado do sistemae a sua decadência: Thomas WALKER. “From Coronelismo to Populism: The Evolution ofPolitics in a Brazilian Municipality, Ribeirão Preto, São Paulo, 1910-1960.” Tese de doutorado,University of New Mexico, 1974. Em um texto bem elaborado, um historiador americano recentementepediu para os pesquisadores abandonarem o conceito já que explica tão mal a realidade.James P. WOODARD. “Coronelismo in Theory and Practice: Evidence, Analysis, and Argumentfrom Sao Paulo” Luso-Brazilian Review (Madison, EUA) v. 42, n. 1, p. 99-117. 2005.9Sobre a manipulação dos eleitores rurais, vide Robert SHIRLEY. “Patronage and Cooperation:An Analysis from São Paulo State”. In: Arnold STRICKEN e Sidney M. GREENFIELD.Structure and Process in Latin America. Albuquerque: University of New Mexico, 1972. p. 139-158; VIL por ter sido excluída AÇA, Marcos e Roberto ALBUQUERQUE. Coronel, coronéis.Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1965 e WOODARD, Coronelismo, passim.10Para interpretações negativas do comportamento político e eleitoral dos migrantes rurais nacidade, vide Francisco WEFFORT. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1978. p. 123-44. José Álvaro MOISES. A greve de massa e crise política (estudo da Grevedos 300 mil em São Paulo, 1953-1954). São Paulo: Polis, 1978. Assis SIMÃO. “O voto operárioem São Paulo.” Revista Brasileira de Estudos Politicos 1:1. Dezembro de 1956. p. 130-141.Nosso estudo alimenta uma nova onda de historiadores que desafiaram a versão negativa domigrante com pesquisas de caso bem mais informativas. Vide, por exemplo, Paulo FON-TES. Trabalhadores e cidadãos: Nitro Química: a fábrica e as lutas operárias nos anos 50. São133<strong>semente</strong>_rev4.indd 133 4/2/2010 16:11:55

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