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A semente foi plantada

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Clifford Andrew WelchSerrana, nos limites de Ribeirão Preto, de propriedade, junto com uma usinade açúcar, de Jamil Cury. 67Siviero encontrou os trabalhadores da Fazenda Martinópolis descontentes ecom inúmeras queixas. A fazenda pagava aos homens cortadores de cana menosdo que metade do salário mínimo estipulado por lei; as mulheres ganhavam aindamenos do que os homens. 68 Além disso, o aluguel era descontado do pagamentodos trabalhadores que moravam nos casebres da fazenda, “casas muito sujas,imundas”, e o mercadinho da fazenda vendia os “piores produtos” a preços muitoaltos. Frente a esta situação, Siviero começou a conversar com os outros trabalhadorespara formar um sindicato. A discussão cresceu para que se incluíssem pessoasda cidade e trabalhadores de uma usina de açúcar próxima à fazenda, a Usinada Pedra. Contatou Girotto, pedindo ajuda, e recebeu um pacote com material,especificando os passos necessários para formar um sindicato.Contudo, antes desses planos serem realizados, a polícia o prendeu e o levoua São Paulo para ser interrogado pelo Deops, a infame divisão “social e policial”do aparato repressivo do Estado. Os interrogadores o intimidaram, afirmaramque ele era um agitador comunista e o pressionaram a confessar suas atividadessubversivas. Siviero negou as acusações, dizendo que “não conhecia os comunistase que não sabia o que era comunismo”. Isso podia muito bem ser verdade, dadaa sua rápida apresentação do partido através de Girotto. Siviero recorda ter explicitadosuas atividades à polícia, ao dizer a ela que estava “cumprindo uma tarefado Getúlio Vargas, que Getúlio tinha lançado um livreto para os trabalhadoresda roça formarem sindicato”, continuou Siviero. Os interrogadores continuarampressionando, querendo saber a religião de Siviero. “Olha se eu falar que tenhouma religião, eu tó mentindo”, respondeu. “É comunista!”, concluíram os agentesdo Deops. Pelo menos <strong>foi</strong> assim que nos contou os acontecimentos. 69É impressionante que, como Siviero recorda, questões teológicas preocupassemmais a polícia do que questões políticas. Durante os anos Dutra, agentes67Transcrição Natal Siviero/Nazareno Ciavatta, entrevista a Geraldo. 4/2, p. 1-2.68De acordo com Siviero, quando o salário mínimo era de Cr$64,00 por dia, Martinópolispagava aos homens Cr$45,00 e às mulheres Cr$40,00 por dia de trabalho. Transcrição NatalSiviero/Nazareno Ciavatta. p. 1. A memória de Siviero pode tê-lo enganado. ODecreto-Lei número 30.342 de 24 de dezembro de 1951 estabelecia um mínimo de Cr$3,46por hora e um pagamento diário de Cr$27,66 por oito horas de trabalho. Até sob as piorescondições, poucos cortadores trabalhavam mais do que 14h por dia. Isto daria um máximode Cr$48,00 por dia. Em 1954, no entanto, o salário mínimo <strong>foi</strong> aumentado em 1º demaio, com o Decreto-Lei número 35.450. Desde então, os salários se assemelham mais aosmencionados por Siviero. O pagamento por hora era de Cr$7,92, dando um total de quaseCr$64,00 por uma jornada de trabalho de oito horas.69Transcrição Siviero/Ciavatta. p. 3. Transcrição Natal Siviero/Nazareno Ciavatta, entrevistaa Geraldo. 2/1, p. 6.224<strong>semente</strong>_rev4.indd 224 4/2/2010 16:12:03

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