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A semente foi plantada

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1. Território de Fronteiraconfrontando o mundo dos fazendeirosEram 4:00 horas da manhã e o cozinheiro deu o toque de alvorada “Olha omoca! Olha o moca!” Outro dia de trabalho havia começado na fazenda da estaçãode trem Alberto Moreira, localizada a poucos quilômetros fora da cidade deBarretos, no noroeste de São Paulo. Às 4:00 horas da manhã, um pouco de pãoe café. Às 5:00 horas da manhã, uma marcha aos campos para cortar árvores,varrer e plantar capim – tudo para criar pasto para o gado da Armour, a empresaestadunidense. Às 8:00 horas da manhã, os homens “almoçavam”. Seis horas depois,às 14:00 horas, eles paravam para jantar, mas não para o fim de um dia detrabalho. Sob um sol tórrido o ano todo e em terras nas quais a tarefa do dia eraa remoção das sombras, o trabalho continuava até o pôr do sol. A comida – arroze feijão, massa e carne – era farta e boa, mas após as 14:00 horas, ela não eramais fornecida. Ao retornarem ao pôr do sol para seus barracos de palha, a fomeatacava os homens e os fazia comprar um naco de queijo, um pedaço de pão oualguns doces do mercadinho da fazenda, agregando débitos descontados de seussalários, com valores muitas vezes mais altos do que o preço do produto no mercado.Essa era a vida do peão na florescente indústria pecuária do Brasil. 1Por certo tempo, Irineu Luís de Moraes seguiu a rotina. Era o ano de1929 e Moraes, com 17 anos e já com um 1.80m de altura, levantava às4:00h, almoçava às 8:00h, jantava às 14:00h e à tardinha ia a pé de volta aoacampamento junto com os outros. Filho de um trabalhador ferroviário, Moraesera um caboclo, mistura de indígena com ancestrais portugueses, e, porisso, parecia pouco diferente dos outros peões. Ele tinha algum estudo e suafamília vivia em Barretos, que, embora fosse uma cidade de fronteira, era, dequalquer forma, uma cidade. Ele havia trabalhado lá no frigorífico inglês: FrigoríficoAnglo. A vida em Barretos era mais agitada e as relações de trabalhono frigorífico menos personalizadas do que na fazenda. Trabalhadores agrícolase vaqueiros desordeiros vinham à cidade para relaxar e para jogar nos barese prostíbulos. Grupos da classe dominante competiam por acesso ao poder,abrindo brechas no monólito da dominação pelos fazendeiros. Os habitantesda cidade acreditavam que viviam em um mercado de trabalho flexível e com1Esta história é recuperada de Cliff WELCH e Sebastião GERALDO, Lutas camponesas no interiorpaulista: Memórias de Irineu Luís de Moraes (São Paulo: Paz e Terra, 1992), p. 35-39. CéliaRegina Aiélo ARAÚJO. “ Perfil dos operários do Frigorífico Anglo de Barretos”. História (Dissertaçãode Mestrado). Unicamp, 2003.45<strong>semente</strong>_rev4.indd 45 4/2/2010 16:11:50

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