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A semente foi plantada

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Clifford Andrew Welchtícias, a polícia apreendeu todas as cópias do jornal de fevereiro a março, nãodeixando nenhum vestígio do registro periódico desses meses críticos. 73Decepando a machadadas a mobilização camponesaO escritório da Supra também <strong>foi</strong> invadido, fechado, e sua equipe <strong>foi</strong> interrogada.Aqui, também, a polícia confiscou tudo. O novo regime usou os documentosapreendidos para desacreditar a agência e o movimento camponês naimprensa; funcionários também utilizaram esses papéis para iniciar processoscriminais contra a agência e seu pessoal. Todos os envolvidos foram acusados desubversão de acordo com a lei de segurança nacional, e, por oito anos, o governomilitar perseguiu Donato e os outros. Em São Paulo, assim como em outrosestados, a Supra <strong>foi</strong> selecionada como alvo privilegiado da repressão, pois tinhaconseguido, em um curto prazo de tempo, apaziguar a rivalidade entre as diversasfacções dedicadas a mobilizar os camponeses, ajudando-os a obter um nívelnunca antes visto de unidade. Esse movimento cada vez mais consolidado ameaçavatornar-se cada vez mais poderoso e eficaz, intensificando a ansiedade daclasse rural dominante. Se por um lado muitos acontecimentos levaram os proprietáriosde terra a se oporem ao regime de João Goulart, o potencial poder deunificação da Supra assustava-os de verdade. Quem controlasse o governo federalcontrolava a Supra e os militares e fazendeiros desejavam esse controle. 74Como fica demonstrado com a participação da SRB no golpe, os cafeicultoresde São Paulo se achavam especialmente ameaçados pela intervençãoestatal em suas relações sociais de trabalho. A ameaça dessa intervenção sempreinspirou suas críticas mais acerbas, dirigidas ao governo. Mas a gota d’água veiocom a criação da Supra. Dada a extraordinária independência das agências doexecutivo sob a constituição de 1946, a Supra ameaçava desestabilizar o equilíbriode forças em detrimento da mais tradicional classe privilegiada do Brasil.Nessas circunstâncias, a própria democracia havia subvertido a ordem social eperturbado o caminho próprio do progresso político e econômico. Eles repudiavama Supra e repudiavam o sistema que a dera à luz. Opondo-se a um sistemaque já se prolongava por 30 anos, desde a era Vargas, os latifundiários e a73A conspiração civil-militar em São Paulo está detalhada em MOURÃO FILHO. Memórias.p. 169-288; SAMPAIO. Adhemar de Barros e o PSP. p. 103-105; e DREIFUSS. 1964. p.376-96. Sobre Ribeirão Preto, vide “Em 64, uma paralisação indesejável”. Jornal de Ribeirão.21-27 de agosto de 1988. p. 4; e “Diário da Manhã”. DN. 31 de maio de 1964. p. 1.74Sobre a campanha contra a Supra, vide. B:NM 144; Clifford Andrew WELCH. “Rivalidadee unificação: mobilizando os trabalhadores rurais na véspera do golpe de 1964”. Projeto História(São Paulo) n. 29, t.2, 2004, p. 363-90 e CAMARGO. A questão agrária. p. 203-05.410<strong>semente</strong>_rev4.indd 410 4/2/2010 16:12:24

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