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A semente foi plantada

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Clifford Andrew WelchA perspectiva de Guerreiro dá uma guinada nesses argumentos. Para Guerreiroe outros participantes uma linha contínua conecta as ligas camponesasdos anos de 1940 às grandes mobilizações das “Diretas Já!” de meados dos anosde 1980. Encontra-se implícita uma visão progressiva da História na qual ostrabalhadores rurais tiveram papel central. Em contraste com visões oficiais, ahistória de Guerreiro legitima e dá poder a camponeses como ele. Na sua memóriado passado, seus esforços e aqueles de todos os militantes rurais não sãonem vergonhosos e nem pouco notáveis, e sim uma maneira de mostrar que ostrabalhadores rurais também manipularam os fios da História todo o tempo.Podem ter havido alguns contratempos durante o caminho, mas se os trabalhadoresrurais fizeram parte da derrubada do regime militar no presente, seu trabalho<strong>foi</strong> construído a partir de esforços anteriores, incluindo a liga camponesade Guerreiro. Neste sentido, Guerreiro oferece uma forte contranarrativa, “umsonho ucrônico” como o analista literário italiano Alessandro Portelli descrevememórias que refletem os “possíveis mundos” dos informantes. No contexto detriunfo para as massas, como percebido em meados dos anos de 1980, o antigocomunista se identifica com “as pessoas” e imagina ligações diretas entre suamilitância e aquela de militantes contemporâneos. 6e Terra, 1988, p. 4; e Aspásia de Alcântara CAMARGO, “A questão agrária: Crise de poder ereformas de base (1930-1964)”, em História geral de civilização brasileira Tomo III, O Brasilrepublicano, vol. 3, Sociedade e política (1930-1964) Boris Fausto (org.) 3ª ed., São Paulo:Difel, 1986. p. 223. Sobre a SRB, ver “Sindicalismo e anarquia rural”, A Rural v. 43, n. 501,p. 3. janeiro, 1963. Ver também Clifford Andrew WELCH, “Rivalidade e unificação: mobilizandoos trabalhadores rurais em São Paulo na véspera do golpe de 1964”. Tradução MelissaSantos Fortes. Projeto História. São Paulo, v. 29, t. 2, p. 363-390. Julho/dezembro, 2004.6O sociólogo José de Souza Martins indiretamente antecipou a perspectiva da continuidadede Guerreiro em seu ensaio de 1981 “Os camponeses e a política no Brasil”. Martins observoucomo a maioria das pessoas, incluindo intelectuais, deixaram de notar “que alguns dosmais importantes acontecimentos políticos da história contemporânea do Brasil são camponeses(…) A história brasileira, mesmo aquela cultivada por alguns setores de esquerda, éuma história urbana”. In MARTINS, Os camponeses e a política no Brasil: As lutas sociais nocampo e seu lugar no processo político. 3ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1986, p. 25-26.O especialista em estudos sobre História Oral Alessandro Portelli adotou o conceito tempomemória aqui usado a partir da ficção científica após ter entrevistado dezenas de militantescomunistas em Terni, na Itália. Para ele, o conceito pareceu válido por recuperar “não apenasos aspectos materiais do sucedido como também a atitude do narrador em relação aos eventos,à subjetividade, à imaginação e ao desejo, que cada indivíduo investe em sua relação coma história” (41). Um número tão grande de informantes contava versões “erradas” do passadoque ele começou a observar este “motivo”, como ele o chama: a forma narrativa do sonhode uma vida pessoal e de uma diferente história coletiva” (44). A <strong>semente</strong> <strong>foi</strong> <strong>plantada</strong> usa oconceito para interpretar testemunhos orais, uma importante fonte de informação para estelivro. Alessandro PORTELLI. Sonhos ucrônicos: memória e possíveis mundos dos trabalhadores.Projeto História.n.10, p. 41-58. Dezembro, 1993.26<strong>semente</strong>_rev4.indd 26 4/2/2010 16:11:48

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