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A semente foi plantada

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Terreno movediçoseus filhos João, Mário e Arlindo retornaram à terra, cuidando de dia e passandoas noites em um esconderijo que eles haviam construído no mato. 40Sendo alvo da persistência da colaboração entre o “Estado” e os “latifundiários”,os posseiros gradualmente aceitaram a proposta do PCB em fazer dePorecatu um foco de resistência camponesa. Durante 1948, representantes dopartido visitaram os camponeses nos fins de semana, chegando à casa de Padilhano sábado e reunindo-se com um grupo para jogar futebol no domingo. Foidurante essas reuniões, relatam Felismino e Priori, que os camponeses concordaramem montar uma luta armada em defesa de suas propriedades. Esta revelação<strong>foi</strong> feita por Barros, que abandonou a luta quando ela se tornou violentae mais tarde cooperou com os interrogadores da polícia. De acordo com o seutestemunho de 1951, o partido usou as reuniões de domingo para distribuirpanfletos e discutir os direitos dos trabalhadores rurais. “Aos poucos”, o Barrosrevelou, “eles foram levando a coisa pro lado do comunismo, pregando que aterra era de quem nela trabalhasse e que todos deveriam se unir para enfrentarjagunços, grileiros, fazendeiros e até mesmo o governo, se fosse preciso. Daísurgiu a proposta de criarem os grupos armados”. Dada a contemporaneidadeentre as declarações de Prestes e a trajetória revolucionária do partido, as lembrançasde Barros são bem plausíveis. Antes que aquele ano acabasse, “fiscais doPCB” fizeram um estudo geográfico da região, procurando por seus recursos epotencial militar: por meio de uma rede de observadores e rotas de abastecimento,os combatentes poderiam ser mantidos informados, alimentados e supridosde armas e munições. Em 1950, um jovem camponês disse a um repórter: “Jánão restava outro caminho. Era preciso a luta armada. E dela não tínhamosmedo. Nós não temos nenhuma alternativa, a não ser a luta armada”. 4117140Sobre a família Billar, vide FELISMINO. “A guerra de Porecatu”. p. 25. “A saga dos Billar”.p. 11 e PRIORI, “A revolta camponesa”. p. 130-35, 208.41BARROS citado por FELISMINO. “Táticas de luta”. FL. 16 de julho de 1985. p. 13. Este artigotambém discute a presença de “fiscais”. Em “A revolta camponesa”, p. 220, o PRIORI citaum relatório do DEOPS sobre Porecatu. John FRENCH (em comunicação pessoal, 8 de maiode 1996) nota que se pode traçar um interessante paralelo entre a aparição de Pedro Pomarcomo representante do PCB no início da luta em Porecatu e o papel que exerceu como catalisadorda luta rural armada na região do Rio Araguaia, no Estado do Pará, no início dos anos de1970, como dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB, fundado em 1960), a que eleviria a pertencer. Ambos os eventos levaram à morte trágica de militantes e civis, aumentandoo crédito dado à famosa observação de Marx, de que “a história se repete, na primeira vez comotragédia, e, na segunda, como farsa”. Pomar mostrou-se mais valoroso do que este truísmo, incitandoos militantes a adotarem um curso de ação diferente no Araguaia; no entanto, cabeçasmais esquentadas e despreparadas prevaleceram neste momento, e mais de 50 militantes forammortos, incluindo o próprio Pomar, que <strong>foi</strong> executado pela polícia quando esta invadiu umareunião clandestina do partido que havia sido convocada para discutir a catástrofe no Araguaiae a morte de Mao Zedong. Vide Jacob GORENDER. Combate nas trevas: A esquerda brasilei<strong>semente</strong>_rev4.indd171 4/2/2010 16:11:58

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