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A semente foi plantada

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Clifford Andrew Welchleiros aproveitaram a oportunidade apresentada pela época da colheita para negaremseus serviços, forçando os fazendeiros a negociarem. Essas práticas foramsuficientemente disseminadas a ponto de merecerem o comentário de AugustoRamos, um fazendeiro contemporâneo e analista da indústria do café:Não causa grande surpresa ver-se no dia mesmo de se iniciar a colheitaem uma fazenda, que cada colono, em vez de seguir cedo para o serviço,deixa-se ficar em casa, apesar de toda a pressão exercida pelos fiscais. Parao fazendeiro essa é a hora crítica em todo o seu ano de trabalho, por estarem causa a renda de sua propriedade. A perda da colheita é a ruína. E é porestarem perfeitamente cientes dessa situação que os colonos, às vezes, delase aproveitam para fazer suas imposições, justas ou injustas.Ramos retrata os colonos como donos da última palavra, abusando dadependência do fazendeiro de seu trabalho. Mas ele também representa o discursode alguns fazendeiros, progressistas o suficiente a ponto de reconhecerema necessidade de respeito aos interesses do colono e seu poder: “Um bom administradorprecisa ter em alto grau o espírito de previdência e de justiça, paraevitar uma greve justificada dos seus colonos, porque semelhante greve é fatal einvencível”. Como Ramos indica, de modo exagerado, o processo de trabalhonas fazendas de café criou uma alavanca que auxiliou os colonos a confrontarema oligarquia dos fazendeiros. 17Apesar deste fortalecimento, as greves gerais em fazendas inteiras eram enormementedifíceis de serem organizadas. Na Alta Mogiana, as grandes propriedadesempregavam milhares de colonos, que povoavam a fronteira com suas crescentesfamílias. Estatísticas de 1913 mostram 8.613 colonos em uma fazendaperto de Ribeirão Preto, cujo proprietário era Francisco Schmidt. A CompanhiaDumont, localizada no vilarejo onde João Guerreiro Filho mais tarde diria quea <strong>semente</strong> da mobilização dos camponeses <strong>foi</strong> <strong>plantada</strong>, tinha então cinco milcolonos contratados para o trabalho em seus vastos campos. Considerando quecada família tinha em média cinco membros, e apenas aqueles que eram velhos efortes o suficiente para trabalharem nos pés de café eram considerados colonos,o número total de pessoas na fazenda e em torno dela era na verdade muito maisalto. Algumas fazendas, como a Dumont, finalmente se expandiram em tornode um centro que abrigava uma quantidade de serviços – mercearia, uma capela,cinema, posto de saúde e escola. Aqui, um fazendeiro e seus administradorespodiam ficar de olho em todos os seus trabalhadores da sacada mais alta da casagrande. As relações entre as pessoas eram íntimas, e as manifestações difíceis deincitar. Outras fazendas grandes foram construídas a partir de parcelas separadas,17Augusto RAMOS. O café no Brasil e no estrangeiro. Rio de Janeiro: Papelaria Santa Helena,1923. p. 209-10.58<strong>semente</strong>_rev4.indd 58 4/2/2010 16:11:51

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