402 O TEXTO COMO MEDIAÇÃOO <strong>texto</strong> pode se constituir em uma das estratégias pedagógicas que possibilitam aoaluno a leitura dialógica do mundo e condições para seu desenvolvimento cognitivo-social.Segundo Larrosa, “o ensinar e o aprender se dão, jogam, na leitura. Por isso, uma leitura tornao jogo mais fácil quando permite que o ensinar e o aprender aconteçam” (1998, p. 174).Vê-se, em Larrosa, como uma lição pode ser uma leitura que possibilite uma verdadeiraaprendizagem, ou seja, em que o processo educativo proporcione uma maior participaçãonas atividades de leitura e uma maior interação com o <strong>texto</strong>.Larrosa chama a atenção quanto ao trabalho do professor quando afirma que oprofessor é aquele que dá o <strong>texto</strong> a ler como um “dom”, é o que remete o <strong>texto</strong> “como umpresente, como uma carta”. E fazendo-se comparações com uma carta e um presente, sabe-seque todos que remetem uma carta ou dão um presente, esperam uma resposta. Para o autor,[...] a remessa do professor não significa dar a ler o que se deve ler, mas sim “dar aler o que se deve: ler”. Ler não é um dever no sentido de uma obrigação, mas nosentido de uma dívida ou de uma tarefa. E é uma dívida e uma tarefa, a dívida e a tarefada leitura que o professor dá quando remete o <strong>texto</strong>. Uma dívida é a responsabilidadeque temos para com aquilo que nos foi dado ou enviado. Uma tarefa é algoque nos põe em movimento. Por isso, dar o <strong>texto</strong> é oferecê-lo como um dom e, nessemesmo oferecimento, abrir uma dívida e uma tarefa, a dívida e a tarefa da leitura, adívida que só se salda assumindo a responsabilidade da leitura, a tarefa que só secumpre no movimento de ler (idem, p. 175).Neste sentido, a tarefa do professor é múltipla: além de ele escolher o <strong>texto</strong> – lêescutando o <strong>texto</strong>, escutando a si mesmo e aos alunos, mesmo que em silêncio. Segundo Larrosa(p. 175), “[...] a qualidade da sua leitura dependerá da qualidade dessas três escutas”.
41O mesmo autor discorre também sobre a face do <strong>texto</strong> escolhido pelo professor,dividindo-a em duas faces: (a) a face exterior do <strong>texto</strong> – a que poderíamos denominar “o ditodo <strong>texto</strong>”, que contém seu significado dado, literal, transparente e idealmente homogêneo paratodos os leitores; e (b) a face interior – é necessariamente múltipla; quando o professor lê o<strong>texto</strong>, o lê simultaneamente para fora, para dentro e para os ouvintes.Para fora porque o professor pronuncia para si mesmo e para os demais isso que dizo <strong>texto</strong>. Para dentro porque o professor diz o <strong>texto</strong> com sua própria voz, com suaprópria língua, com suas próprias palavras, e esse redobrar-se do <strong>texto</strong> faz com queas palavras que o compõe soem para ele, lhe pareçam ou lhe digam de um modo singulare próprio. Para os ouvintes, porque o professor diz o <strong>texto</strong> no interior de algoque é comum, daquilo que poderíamos chamar de “sentido comum”, aquilo que osouvintes sentem em comum quando prestam atenção à mesma coisa e que nada maisé senão a experiência da pluralidade e do infinito sentido (idem, p. 176).Diante dessas reflexões observa-se que, ao entregar um <strong>texto</strong> para o aluno, a responsabilidadedo professor torna-se maior quando tem que praticar este exercício anterior àlição em sua materialidade, exercitando também o jogo da linguagem em sua multiplicidade eem seu infinito.Para Larrosa (p. 176), ao ler a lição, não se buscam respostas e sim perguntas possíveisque os <strong>texto</strong>s respondem. Para ele, o <strong>texto</strong> é o “primeiro responsável”, e sendo assim, aleitura não “responde a questão, mas a reabre, a repõe e a re-ativa, na medida em que nos pedecorrespondência, “como uma carta”, o que Freire (1975, p. 77), chama de “problematização”.Desse modo, vê-se que ler é muito mais do que decifrar códigos lingüísticos, muitomais do que ler nas entrelinhas, é preciso que a leitura leve a uma reflexão, a uma pergunta:O que se deve ler na lição não é o que o <strong>texto</strong> diz, mas aquilo que ele dá o que dizer.Por isso, a leitura da lição é escuta, além daquilo que o <strong>texto</strong> diz, o que o <strong>texto</strong> abrigae o que ele dá o que dizer. Ler não é apropriar-se do dito, mas recolher-se na intimidadedaquilo que dá o que dizer ao dito. [...] Por isso, ler é trazer o dito à proximidadedo que fica por dizer, trazer o pensado à proximidade do que fica por pensar,trazer o respondido à proximidade do que fica por pensar, trazer o respondido à proximidadedo que fica por perguntar (idem, p. 177).Assim, no momento em que o <strong>texto</strong> é apresentado ao aluno, o professor não sepode deixar levar apenas pelo dito ou pelo que deve ser dito, mas, conforme Larrosa (p. 177),
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