criança e consumo
Crianca-e-Consumo_10-anos-de-transformacao
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os profissionais de comunicação. Às vezes, será necessário perder a piada,<br />
ainda que para os critérios de alguns isso signifique deixar de ser criativo.<br />
A propaganda para a <strong>criança</strong>, que parece apresentar produtos, na verdade<br />
vende valores, estilos de vida, os quais não respondem à sustentabilidade<br />
que se busca. E há quem diga que caminhamos para a sustentabilidade e<br />
sustente isso com relatórios empresariais. Não há mais como consumir os<br />
recursos do planeta, inclusive o principal recurso para o futuro: as <strong>criança</strong>s.<br />
Está na hora de ser, não de ter; na hora de parar de apenas falar, de mudar<br />
de verdade. As empresas jamais trabalharão para perder dinheiro, por isso<br />
vemos movimentos consistentes de mudança na produção de produtos – a<br />
Coca-Cola, por exemplo, hoje também vende sucos e água; o crescimento<br />
da Subway mostra novas tendências; até a fast-food enfrenta o movimento<br />
slow food, entre muitas outras novidades em termos de estilo de vida. Até<br />
mães que preservam seus filhos de frequentarem a escola, ensinando-os<br />
em casa! Não nos faltam motivos para refletir sobre novos comportamentos.<br />
A SOCIEDADE CIVIL CLARAMENTE VIRA INTERLOCUTORA DAS MARCAS<br />
O Instituto Alana, com o projeto Criança e Consumo, deve ficar feliz<br />
com essa década de trabalho, pois suas ações produziram multiplicadores.<br />
Surgiram, com algum apoio do Alana, outras redes que atuam no<br />
tema publicidade infantil: a Rebrinc, que reúne mais de 1.500 pessoas e<br />
instituições e reflete, denuncia e amplia conversas sobre a publicidade<br />
na educação de <strong>criança</strong>s e adolescentes; são especialistas que já atuavam<br />
em torno do projeto Criança e Consumo e lançaram um site, muito<br />
bem-estruturado, e uma página com publicações e denúncias diárias de<br />
comunicações inadequadas ao público infantil. As preocupações concentram-se<br />
nas datas de maior <strong>consumo</strong>, como Dia das Crianças e Natal,<br />
criando, inclusive, uma campanha específica, o Natal das Dádivas, que<br />
convida os pais a trocar a loucura das compras de fim de ano por tempo<br />
com os filhos. Há também o Movimento Infância Livre de Consumismo<br />
(Milc), de âmbito nacional, que reúne mães atentas às propagandas e aos<br />
produtos infantis e promove feiras de troca pelo Brasil, realiza palestras<br />
em escolas e está alerta ao licenciamento de personagens em materiais<br />
escolares e produtos vendidos nas cantinas.<br />
Outra vitória foi a resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da<br />
Criança e do Adolescente (Conanda), que declarou abusiva a comunicação<br />
mercadológica para <strong>criança</strong>s no segundo semestre de 2014. Isso chocou<br />
e incomodou anunciantes, agências e profissionais, como ilustradores e<br />
criativos em geral. As mudanças não se deram devido à resolução, mas<br />
porque o órgão traduziu o desejo de uma sociedade com novas escolhas,<br />
mais conscientes, e o desejo de cumprir a Constituição: <strong>criança</strong> prioridade<br />
absoluta (artigo 227). A resolução do Conanda não é lei? Estejam certos de<br />
que o mais importante é que ela chega e aumenta a massa crítica de ideias<br />
que começaram muito tímidas nos últimos dez anos. A resolução está aí,<br />
influenciando. Não se pode deixar de mencionar o tema da redação do Enem<br />
em 2014: publicidade infantil. Foram aproximadamente 8 milhões de pessoas,<br />
envolvendo a família dos que participaram (considerando o jovem e<br />
três familiares), pensando sobre o tema.<br />
As redes organizam-se, e cresce o número de famílias que buscam<br />
outro modelos de vida. Descobrimos, todos os dias, que um novo mundo<br />
está emergindo do desejo dos interlocutores. O tempo da publicidade<br />
massacrante, que não conversa com o consumidor, que não considera<br />
os mais fracos (não só as <strong>criança</strong>s), está chegando ao limite. Os pais, que<br />
vivem um momento de imensa dificuldade para educar os filhos, não vão<br />
se calar. E o Instituto Alana, com seu projeto, possibilitou que a sociedade<br />
percebesse o que estava em questão.<br />
A SOCIEDADE EM REDE TEM FORÇA<br />
Semanas antes de este artigo ser fechado, algumas comunicações<br />
mercadológicas foram comentadas pelos autores, que pediram desculpas<br />
à sociedade. A seguir estão elencados exemplos, pelo simbólico sistêmico<br />
que carregam:<br />
1) Luciano Huck lançou uma camiseta (para meninas de oito ou nove<br />
anos) com os dizeres: “Vem ni mim que eu tô facin” [sic]. Não houve<br />
necessidade de acionar o Conar para análise e avaliação; com as manifestações<br />
nas redes sociais, ele foi logo obrigado a pedir desculpas.<br />
2) A Skol fez para o Carnaval um anúncio que dizia: “Esqueci o ‘não’<br />
em casa”. Rapidamente foi substituído por: “Quando um não quer, o<br />
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