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criança e consumo

Crianca-e-Consumo_10-anos-de-transformacao

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horizonte de vida fora da competição selvagem, implacável, diuturnamente,<br />

do consumismo exacerbado, do narcisismo, que aparece no<br />

“culto ao corpo”, na obsessão pela saúde, no medo da velhice, no pânico<br />

da morte, na identificação com todos os que conseguiram sobressair,<br />

pela fama, ao rebanho. 7<br />

Nesse mundo novo de consumismo e individualismo exacerbados,<br />

não existia qualquer controle acerca da atividade publicitária. As propagandas<br />

corriam livre e levemente. Tudo era novo e aparentemente bom.<br />

O sonho do Brasil moderno justificava tudo. O Brasil bossa-nova. Mas,<br />

como ressaltam os autores citados, o indivíduo começa a ser esmagado.<br />

Importante notar que a televisão surge no Brasil na década de 1950, 8<br />

o que poderia supor a criação de um espaço público de divulgação e discussão<br />

dos problemas nacionais. Como afirma Esther Hamburger, “a<br />

televisão oferece a difusão de informações acessíveis a todos sem distinção<br />

de pertencimento social, classe social ou região geográfica”. 9 No entanto,<br />

a autora demonstra que a televisão acabou sendo dominada pelo capital<br />

privado e que o principal programa televisivo do início da década de 1960<br />

eram as telenovelas, que estabeleciam padrões de <strong>consumo</strong>. E quem estava<br />

por trás das telenovelas? As indústrias norte-americanas de artigos<br />

de limpeza e higiene pessoal, como a Colgate-Palmolive e a Gessy Lever.<br />

A novela passou a ser a grande divulgadora de novos hábitos de <strong>consumo</strong>,<br />

a grande criadora de desejos. 10<br />

Foi nesse contexto, ainda que com um pouco de demora, que os próprios<br />

profissionais da área perceberam que algo deveria ser feito para<br />

controlar a atividade publicitária. Algum limite deveria ser imposto.<br />

Antecipando propostas legislativas, e muitas vezes colocando-se contra<br />

qualquer atividade legislativa, eles propuseram um sistema de autorregulamentação.<br />

Nesse sentido, os publicitários tiveram a iniciativa de criar<br />

um código para controle de suas atividades, o que acabou por ocorrer<br />

no ano de 1978, por ocasião do III Congresso Brasileiro de Propaganda.<br />

Um parêntese: não sou daqueles que acham que não existe papel para o<br />

Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), entidade<br />

civil fundada pelos publicitários em 1980 e que tem como objetivo<br />

implementar um código de conduta. Pelo contrário. Acredito que todos<br />

“A vida das pessoas<br />

ficou mais fácil<br />

com o advento do<br />

acesso massificado<br />

aos bens de<br />

<strong>consumo</strong>, mas<br />

surgiram vários<br />

problemas que antes<br />

não existiam.”<br />

304 • CRIANÇA E CONSUMO – 10 ANOS DE TRANSFORMAÇÃO LEGISLAÇÃO • 305

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