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criança e consumo

Crianca-e-Consumo_10-anos-de-transformacao

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“<br />

É na cultura que a<br />

<strong>criança</strong> pode mais<br />

facilmente exercitar a<br />

metacognição, conceito<br />

pelo qual psicólogos e<br />

pedagogos tratam a<br />

faculdade que a pessoa<br />

tem de refletir sobre si<br />

e sobre o outro no<br />

processo de<br />

aprendizagem.”<br />

A operação mental da recursividade, que é a referência sobre referência,<br />

é fundamental na construção do pensamento abstrato. Ela nos<br />

permite, no jeito de ver de Leme, “criar representações de ordem superior<br />

e exercer algum controle sobre elas” (p. 711), como ter consciência do<br />

próprio conhecimento, capacidade de viajar no tempo, de produzir ferramentas<br />

que fazem ferramentas, de desenvolver narrativas e de pensar por<br />

similitude relacional entre o semelhante e o diferente, esta parte exemplificada<br />

por Leme na figura de função análoga do ninho e da colmeia.<br />

Citando o psicólogo polaco-estadunidense Jerome Bruner, Leme<br />

ressalta que ele “considera que a possibilidade de se tornar cultural é<br />

o que diferencia a cognição humana [...], pois conceitua cultura como<br />

um conhecimento do mundo, implícito e não interligado” (p. 712). É o<br />

que autoriza a redescrição representacional do jogo imaginativo, por<br />

meio do qual a <strong>criança</strong> pode alterar a lógica formal estabelecida, como<br />

quando brinca de montar em uma vassoura. O estímulo a esse exercício<br />

de representação sobre representação, que é a discursividade, contribui<br />

para dar elasticidade e variedade ao ato perceptivo.<br />

Leme explica que a influência da cultura foi decisiva em sua coevolução<br />

com a capacidade de abstrair do ser humano, posto que contou com<br />

traços da intersubjetividade, da apreensão de intencionalidade no outro<br />

e da cooperação, no desenvolvimento da capacidade de representar sobre<br />

representações, presente em sua condição com significados partilhados.<br />

Seu trabalho ilustra as interações possíveis entre afeto, cognição e cultura<br />

no processo de aprendizagem.<br />

Entre os consensos estabelecidos entre afeto e cognição, Leme relata<br />

sua curiosidade e seu impulso exploratório como motivação para aprendizagem.<br />

O processo ocorreria, assim, em dois níveis de funcionamento:<br />

Um mais ancestral, partilhado com outras espécies, é mais automático,<br />

controlado pela novidade de estímulos [...], outro, mais complexo,<br />

seriam as metas para aprendizagem, que envolvem mais dimensões<br />

cognitivas e afetivas, se processam de modo mais deliberado e,<br />

portanto, sob intervenção da consciência. (p. 717)<br />

270 • CRIANÇA E CONSUMO – 10 ANOS DE TRANSFORMAÇÃO CULTURA • 271

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