criança e consumo
Crianca-e-Consumo_10-anos-de-transformacao
Crianca-e-Consumo_10-anos-de-transformacao
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
sobre a liberdade humana seja aceitável na conhecida fórmula: “O único<br />
propósito pelo qual pode ser exercido com pleno direito o poder sobre<br />
qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra a vontade deste,<br />
é o de prevenir o dano a outros”. A imposição de restrições às empresas<br />
na veiculação de publicidade que pode estimular hábitos alimentares não<br />
saudáveis legitima-se, segundo essa lógica, na prevenção de danos às<br />
<strong>criança</strong>s. Além disso, se por lei as <strong>criança</strong>s “são absolutamente incapazes<br />
de exercer pessoalmente os atos da vida civil” (Código Civil), elas não<br />
deveriam ser alvo de indução ao <strong>consumo</strong> por meio de estratégias que<br />
se aproveitem de sua deficiência de julgamento e experiência, proibidas<br />
pelo Código do Consumidor.<br />
Há, ainda, outro aspecto a ser considerado neste debate: a saúde de<br />
cada indivíduo deixa de ser um problema individual quando o custo com<br />
o tratamento de doenças é suportado por toda a sociedade por meio de<br />
impostos. Se o povo paga essa conta, ele deve ter o direito de prevenir os<br />
custos por meio de ações legais tomadas por representantes democraticamente<br />
eleitos.<br />
Além dos prejuízos à saúde, a gravidade dos danos psicológicos, sobretudo<br />
para <strong>criança</strong>s e adolescentes, é aspecto que merece destaque.<br />
Muitas pessoas não conseguem a sensação de felicidade, bem-estar<br />
e autoestima sem aceitação social, e o ideal de beleza dominante não<br />
combina com obesidade. Um trabalho do departamento de psicologia da<br />
Universidade de Yale mostra que o resultado desse contexto para os mais<br />
jovens é cruel. Baseado em diversas pesquisas, converge para a constatação<br />
de que <strong>criança</strong>s obesas sofrem forte discriminação. A estigmatização<br />
é grave porque não é apenas estética – o preconceito faz a <strong>criança</strong> obesa<br />
ser vista pelos colegas como preguiçosa, incompetente, desprovida de<br />
autodisciplina e emocionalmente problemática. A conclusão é: “Atitudes<br />
negativas para com pessoas obesas tornou-se uma forma aceitável de<br />
preconceito na sociedade ocidental”. O resultado é o descontentamento<br />
com o próprio corpo. Pesquisa entre estudantes americanos revelou que<br />
49% das meninas e 39% dos meninos gostariam de ser mais magros.<br />
Outro estudo constatou que 90% dos estudantes com excesso de peso<br />
acham que as provocações e os constrangimentos que sofrem de colegas<br />
cessariam caso emagrecessem; e 69% acham que teriam mais amigos. 9<br />
“<br />
Inegável o<br />
propósito imperativo:<br />
a publicidade existe<br />
para persuadir<br />
o público, instigar<br />
o <strong>consumo</strong> de<br />
determinados bens<br />
e serviços ... para<br />
repercutir no<br />
comportamento das<br />
pessoas e modificar<br />
seus hábitos.”<br />
288 • CRIANÇA E CONSUMO – 10 ANOS DE TRANSFORMAÇÃO LEGISLAÇÃO • 289