criança e consumo
Crianca-e-Consumo_10-anos-de-transformacao
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Nas rotinas urbanas, chegamos à apartação de dois tipos de <strong>criança</strong>s:<br />
as com rua e as sem rua. As com rua aprendem a ler a realidade concreta<br />
na luta pela sobrevivência e picham o espaço público na busca de dizer<br />
que não sabem expressar o que sentem; já as sem rua vivem trancadas,<br />
muitas vezes sem saber o que temer, mas com tendência a desprezar o<br />
bem comum. Ambas são niveladas pelo acesso contumaz à tela de computadores,<br />
celulares, televisões e tablets.<br />
TAMANHO DA CRIANÇA<br />
No debate sobre problemas urbanos, fala-se em mobilidade, paisagismo<br />
e acessibilidade, mas nas cidades falta requalificação cultural que<br />
trate da coesão entre lugares e sentidos. A palavra “sociedade” precisa<br />
deixar de significar apenas a noção de “mundo das <strong>criança</strong>s” colocado<br />
como algo exótico no “mundo dos adultos”. Nas cidades, dificilmente<br />
encontram-se obras públicas em escala infantil. As <strong>criança</strong>s têm sempre<br />
que olhar para cima para ver, que seja, um letreiro. É impraticável para<br />
elas circular pelas áreas públicas com pertença, no vivenciar das fases<br />
do desenvolvimento infantil, por mera falta de estrutura de reconhecimento<br />
cultural.<br />
Óbvio que a cultura isoladamente não assegura a vida em sociedade.<br />
Mesmo sendo mais importante que a educação, aquela necessita desta<br />
para transformar em interpretação a predominância dos costumes na<br />
experiência, na crença, na modelagem do comportamento. A educação<br />
sem cultura tende à alienação e à perda de sensibilidade. Na realidade<br />
multimodelar em que vivemos, os elos unificantes não podem prescindir<br />
dos impulsos e das feições culturais para abrir horizontes.<br />
Tenho pensado muito no espectro de fatores constitutivos do real. No<br />
artigo “Ser pessoa – a experiência da infância”, publicado na RIVISTA<br />
do MINO nº 151, foquei a reflexão no brincar enquanto verbo e na brincadeira<br />
como substantivo. Sem brincar, o indivíduo pode crescer como<br />
ser humano, mas somente brincando torna-se pessoa de fato. Humano<br />
é espécie; pessoa é cultura. É pelo brincar que a <strong>criança</strong> se revela gente<br />
de maneira plena. Na circunstância que for, através da brincadeira, ela<br />
inventa a oportunidade de existir.<br />
“ Nas rotinas urbanas,<br />
há dois tipos de<br />
<strong>criança</strong>s: as com rua<br />
e as sem rua. As com<br />
rua aprendem a ler<br />
a realidade concreta;<br />
já as sem rua vivem<br />
trancadas, muitas vezes<br />
sem saber o que temer.”<br />
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