criança e consumo
Crianca-e-Consumo_10-anos-de-transformacao
Crianca-e-Consumo_10-anos-de-transformacao
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Logo nas primeiras páginas, Susan alerta:<br />
As <strong>criança</strong>s de hoje estão crescendo em um turbilhão de marketing. O<br />
fato de elas influenciarem mais de 6 bilhões de dólares em gastos anuais<br />
não passou despercebido às empresas americanas, que buscam estabelecer<br />
vínculos de lealdade às marcas de seus produtos e serviços que vão<br />
do berço ao túmulo. (p. 21)<br />
Embora circule há mais de vinte anos, a publicação é mais atual do<br />
que nunca. A evolução digital e as novas tecnologias agravam o mesmo<br />
desafio de antes: como proteger a infância da comunicação mercadológica?<br />
Em 2010, Susan lançou Em defesa do faz de conta (Best Seller), livro<br />
em que trata da importância do brincar e de sua preocupação com um<br />
mercado crescente de produtos que minam a criatividade infantil – outra<br />
perspectiva sobre a mesma questão.<br />
Aposentada das atividades da CCFC, Susan Linn se mantém ativa.<br />
“Estou deixando a organização, não o tema. Estou trabalhando em outro<br />
livro, continuo dando palestras e prestando consultoria sobre os assuntos<br />
que mais me importam: o bem-estar das <strong>criança</strong>s, as brincadeiras criativas<br />
e os impactos do marketing na infância.”<br />
Atualmente, a CCFC é coordenada por Josh Golin, que está na organização<br />
desde 2003 como responsável pelas campanhas de advocacy e<br />
estratégias de comunicação. Ele dá continuidade ao trabalho da mentora,<br />
com inúmeros questionamentos sobre ações de marketing infantil nos Estados<br />
Unidos. No início de 2015, por exemplo, a CCFC alertou a sociedade<br />
sobre o impacto negativo de uma novidade no mercado de brinquedos:<br />
uma boneca que estabelecia diálogos complexos com <strong>criança</strong>s por meio<br />
de um sistema de gravação de voz. A notícia ganhou projeção nos principais<br />
jornais do mundo, e Susan ajudou a ecoar: “É aterrorizante! Há uma<br />
preocupação ética do direito das <strong>criança</strong>s à privacidade”, diz.<br />
No momento em que o Criança e Consumo completa dez anos em defesa<br />
dos direitos da <strong>criança</strong>, convidamos Susan Linn a uma breve reflexão<br />
sobre as conquistas e os desafios do tema consumismo infantil.<br />
PROBLEMA DE TODOS<br />
“O marketing dirigido às <strong>criança</strong>s emanou dos Estados Unidos, particularmente<br />
de empresas multinacionais, mas hoje, de fato, está em todos<br />
os lugares. É verdade que existem diferenças culturais, mas as preocupações<br />
referentes à mercantilização da infância são uma constante. O <strong>consumo</strong><br />
dita como as pessoas devem ser e se comportar e do que precisam para ser<br />
felizes. Brinquedos e brincadeiras estão dominados pelas grandes corporações,<br />
que não têm interesse em preservar o tempo de desenvolvimento<br />
das <strong>criança</strong>s nem a cultura de cada lugar. Essa padronização ao redor do<br />
mundo é preocupante. Os estudos científicos mostram que o marketing<br />
dirigido às <strong>criança</strong>s é um dos fatores para diversos problemas da sociedade<br />
contemporânea. Não é a única razão, mas reflete-se na obesidade infantil, na<br />
erotização precoce, na violência, no estresse familiar, no <strong>consumo</strong> precoce<br />
de álcool e de drogas e na erosão da brincadeira criativa.”<br />
NÃO EXISTE ÉTICA NO MARKETING DIRIGIDO A CRIANÇAS<br />
“Não há justificativa ética nem moral possível para manipular as <strong>criança</strong>s<br />
com o intuito de vender algo. É antiético e imoral direcionar publicidade para<br />
<strong>criança</strong>s e torná-las alvo de marketing. As <strong>criança</strong>s não são resistentes à publicidade<br />
como os adultos, e mesmo os adultos são vulneráveis ao marketing.”<br />
DESAFIOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS<br />
“Hoje as ações de marketing estão cada vez mais agressivas, persuasivas<br />
e frequentes. O maior desafio é a revolução digital. Estou muito preocupada<br />
com a tecnologia, especialmente na vida das <strong>criança</strong>s. Por exemplo, bonecas<br />
e brinquedos que podem gravar voz possibilitam que as empresas usem esse<br />
registro para criar mercadorias baseadas no que elas dizem.<br />
Vejo duas tendências. A primeira é que, com o avanço da comunicação<br />
digital e da internet, publicitários têm uma infinidade de novas maneiras<br />
de anunciar para <strong>criança</strong>s. Eles podem fazer isso de forma subliminar e<br />
misturada com informação e entretenimento. O problema é crescente. Ao<br />
mesmo tempo, há mais preocupação sobre as consequências do marketing<br />
dirigido às <strong>criança</strong>s.”<br />
32 • CRIANÇA E CONSUMO – 10 ANOS DE TRANSFORMAÇÃO<br />
MEMÓRIA • 33