criança e consumo
Crianca-e-Consumo_10-anos-de-transformacao
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“<br />
O brincar tem<br />
potencial para<br />
estabelecer-se como<br />
atividade autônoma<br />
compartilhada, por<br />
meio da qual a <strong>criança</strong><br />
aprende a lidar com<br />
regras, com o(s)<br />
outro(s) e a desenvolver<br />
o conhecimento.”<br />
O eixo fantasia do real talvez seja o que nos permita identificar mais<br />
facilmente o chamado “universo infantil”, pois remete à dimensão imaginária<br />
que a <strong>criança</strong> estabelece com o mundo. Se o processo de imaginação<br />
do real é uma característica comum a adultos e <strong>criança</strong>s, ele assume<br />
um caráter fundante do modo como a <strong>criança</strong> estrutura seus processos<br />
de inteligibilidade.<br />
A capacidade de transpor elementos do real imediato para um mundo<br />
imaginário ou de elementos do imaginário para o cotidiano radicalizase<br />
na infância, mas não se perde inteiramente na fase adulta. Por isso<br />
mesmo, é compreendida como da ordem da diferença, não do déficit,<br />
da <strong>criança</strong> em relação aos adultos, configurando-se como um potente<br />
recurso de fruição nas situações mais adversas e possibilitando a continuidade<br />
do jogo da vida (Sarmento, 2002). Além disso, como atestam<br />
pesquisadores dos campos da sociologia e da antropologia (Durand, 1988;<br />
Maffesoli, 1988), a constituição do imaginário tampouco é um fenômeno<br />
da ordem apenas individual – é do âmbito do coletivo também, marcado<br />
pelas relações societais que o configuram em cada contexto.<br />
O eixo da reiteração é aquele que estabelece a possibilidade de explorar<br />
o modo recursivo como a <strong>criança</strong> lida com o tempo, tomando-o<br />
como infinito, não linear, indefinidamente repetido, reconstruído e<br />
reinventado. No plano sincrônico, esse tempo recursivo da infância<br />
exprime-se na recriação de rotinas e situações. No plano diacrônico,<br />
por sua vez, ele revela-se por meio da transmissão de brincadeiras,<br />
jogos e rituais, continuamente passados e reinventados entre os grupos<br />
de <strong>criança</strong>s de maior idade para os de menor idade, potencializando a<br />
contínua reinvenção.<br />
Tendo em vista esses quatro eixos, devemos considerar possíveis<br />
implicações de alguns processos societários contemporâneos – de convergência<br />
midiática e de promoção da cultura do <strong>consumo</strong> – 3 na configuração/reconfiguração<br />
das culturas infantis.<br />
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