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considerável de seu patrimônio.<br />
Para Jorge Paulo, prossionais com a formação de Claudio Haddad poderiam<br />
antecipar futuros movimentos macroeconômicos que colocassem o banco novamente<br />
em risco. O economista calculava tudo, pesava prós e contras antes de tomar<br />
qualquer decisão. Ele era tão cauteloso que por anos duvidou que conseguiria um dia<br />
pagar as opções de ações que recebia do Garantia. Não só Haddad quitou sua dívida<br />
como em 1993 se tornou o principal executivo do banco.<br />
Argumentos cautelosos como os de Claudio Haddad eram tudo o que Jorge<br />
Paulo Lemann não queria ouvir quando anunciou a compra da Brahma. O<br />
empresário tinha certeza de que a aquisição era um negócio importante. Uma<br />
daquelas oportunidades que passam poucas vezes em frente a um empreendedor.<br />
Algo com potencial para impactar drasticamente o destino do grupo. Sua conança<br />
absoluta não tinha nada a ver com um “sexto sentido” ou coisa que o valha. Jorge<br />
Paulo se considera um homem com intuição zero. Na tomada de decisões ele conta<br />
sobretudo com bom senso, visão de futuro e um raciocínio simples. Eis seu<br />
argumento para convencer Claudio Haddad de que a transação fazia todo o sentido:<br />
“País tropical, clima quente, marca boa, população jovem e má administração... Pô,<br />
tem tudo pra gente transformar numa coisa grande”, disse ao sócio. Para completar,<br />
o banqueiro havia feito uma “pesquisa de mercado” informal, que revelou<br />
informações animadoras. “Eu olhava na América Latina e quem era o cara mais<br />
rico da Venezuela? Um cervejeiro (a família Mendoza, da Polar). O cara mais rico<br />
da Colômbia? Um cervejeiro (o grupo Santo Domingo, dono da Bavaria). O mais<br />
rico da Argentina? Um cervejeiro (os Bemberg, da Quilmes). Esses caras não<br />
podiam ser todos gênios... O negócio é que devia ser bom.” Embora relutante,<br />
Haddad aquiesceu. Sem ter ideia de que aquela se transformaria na maior cervejaria<br />
do planeta, se tornou também sócio da Brahma. Estima-se que a participação que<br />
ele comprou a contragosto valia em 2012 o equivalente a quase 1 bilhão de reais em<br />
papéis da AB InBev.<br />
Como banqueiros que não conheciam nada sobre o dia a dia de uma operação<br />
cervejeira poderiam controlar a centenária Brahma? “Só estamos entrando no<br />
negócio com o dinheiro”, disse Beto Sicupira à época, talvez numa tentativa de<br />
acalmar os céticos. Nada mais distante da realidade. Da mesma maneira que o<br />
próprio Sicupira havia deixado o banco anos antes para mudar radicalmente a<br />
gestão da Lojas Americanas, outro sócio seria agora escalado para fazer o mesmo<br />
na cervejaria. O escolhido foi Marcel Telles.<br />
Àquela altura, Marcel já somava quase 18 anos no banco. Fazia pouco tempo<br />
que ele concluíra um curso em Harvard chamado OPM (Owner/President<br />
Management Program), voltado para empreendedores que precisavam aprender<br />
mais sobre administração (Beto Sicupira concluíra esse curso anos antes). Foi em<br />
Harvard que o banqueiro, que até então se concentrava apenas nas transações diárias<br />
da instituição nanceira, começou a se transformar num empresário com visão de