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SONHO GRANDE

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vendeu sua participação de 52% na cervejaria brasileira para os belgas. Em troca,<br />

comprou 25% dos papéis da Interbrew. O negócio previa ainda que a Labatt,<br />

operação canadense que pertencia aos belgas, fosse incorporada pela Ambev (a<br />

cervejaria brasileira assumiria a dívida de cerca de 1,5 bilhão de dólares da Labatt).<br />

A Ambev continuaria a operar como uma empresa separada, listada em bolsa e<br />

com seu próprio corpo de executivos. Analisados friamente, os números<br />

demonstravam que a Interbrew agora era a dona da cervejaria brasileira, ainda que<br />

o trio de brasileiros tivesse conquistado uma participação relevante na nova<br />

companhia.<br />

A questão é que as regras de governança da InBev não deixavam claro quem<br />

seria o manda-chuva – o acordo de acionistas válido por 20 anos estabelecia que o<br />

controle seria compartilhado. O conselho de administração teria quatro membros<br />

representando a Braco, quatro representando os belgas e seis independentes. O CEO<br />

da nova empresa seria o americano John Brock, que havia quase dois anos<br />

comandava a Interbrew. O recém-criado comitê de convergência, montado para<br />

unicar a cultura das duas empresas e padronizar as operações, estaria sob a<br />

supervisão de Marcel Telles. A sede da nova empresa seria em Leuven, onde estava<br />

baseada a Interbrew.<br />

A distribuição do capital, a escolha do CEO e a denição da sede davam sinais<br />

claros de que a Ambev havia sido comprada. Se não bastassem as aparências, a<br />

equipe de relações públicas contratada pela Interbrew, a Brunswick, de origem<br />

inglesa, tratou de divulgar o negócio na Europa logo pela manhã como uma<br />

aquisição. Por conta da diferença de fuso horário, a versão belga já tinha ganhado o<br />

mundo quando os jornalistas do Brasil se reuniram no hotel Hilton, em São Paulo,<br />

para ouvir o que os executivos da Ambev tinham a dizer. A confusão era total. Em<br />

poucas horas a Máquina da Notícia, agência de comunicação contratada pela<br />

Ambev no Brasil, foi obrigada a aumentar de 12 para 48 o número de prossionais<br />

envolvidos na operação (internacionalmente a divulgação estava nas mãos da<br />

americana Edelman).<br />

Os dois porta-vozes da coletiva eram Victório De Marchi e Carlos Brito, que um<br />

ano atrás havia assumido o posto de principal executivo da Ambev, sucedendo<br />

Magim Rodrigues. Ao lado do palco armado para acomodar De Marchi e Brito<br />

estavam o banqueiro José Olympio Pereira e o advogado Paulo Aragão. Quem<br />

presenciou a entrevista ainda se lembra de que aquilo parecia conversa de maluco. O<br />

pessoal da Ambev tentava a todo custo argumentar que a empresa não havia sido<br />

comprada. Os jornalistas pressionavam. Como isso era possível se a Interbrew seria<br />

a maior acionista da cervejaria brasileira? E mais: se a Ambev havia sido criada<br />

anos antes supostamente para se proteger da investida de concorrentes estrangeiros e<br />

formar uma “multinacional verde-amarela”, como justicar o negócio com os<br />

belgas? O discurso da Ambev, de que aquilo se tratava de uma fusão, simplesmente<br />

não colava.

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