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SONHO GRANDE

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se dar ao luxo de ter hábitos caros porque não tinha dinheiro para gastar...<br />

A verdadeira cultura do Goldman Sachs era uma combinação única de uma<br />

tremenda vontade de ganhar dinheiro com as características de uma ‘família’, no<br />

sentido que chineses, árabes e europeus entendem muito bem... Fidelidade absoluta à<br />

firma e à sociedade era esperada. Apesar dos fortes sentimentos – incluindo<br />

rivalidades pessoais e rompantes de raiva – serem conhecidos dentro da sociedade,<br />

uma impenetrável parede de silêncio mantinha as tensões internas invisíveis para<br />

quem estava de fora. Nenhuma outra firma chegou perto disso... Discrição pessoal era<br />

praticamente um valor central do banco. Algumas coisas que concorrentes podiam<br />

celebrar ou ressaltar eram deliberadamente diminuídas. O prédio do Morgan Stanley,<br />

por exemplo, tinha um enorme letreiro em neon, mostrando cotações de ações que<br />

podiam ser vistas a várias quadras de distância. Em Nova York, Londres ou Tóquio<br />

não há nenhuma indicação da presença do Goldman Sachs – exceto os jovens homens<br />

e mulheres bem-vestidos que entram cedo no edifício ou saem tarde da noite.”<br />

Um século separa a fundação do Goldman Sachs do início das atividades do<br />

Garantia, mas as semelhanças entre as duas instituições são notáveis. Os primeiros<br />

contatos de Jorge Paulo Lemann com o banco americano se deram graças a um<br />

empurrão de seu tio, Louis Truebner, grande negociador de cacau. Truebner morava<br />

nos Estados Unidos e tinha conhecidos no GS que abriram as portas da instituição<br />

para seu sobrinho. Assim como o Goldman Sachs, Jorge Paulo e seus sócios<br />

professavam a meritocracia como um valor central. Detestavam aparições públicas.<br />

Entrevistas a jornalistas, por exemplo, eram poucas e ao longo dos anos foram<br />

escasseando até que praticamente desapareceram. Incentivavam a frugalidade e<br />

colocavam o sucesso do banco acima dos desejos ou vontades pessoais.<br />

Estimulavam a competição interna. Era uma lógica secular no banco estrangeiro,<br />

mas nova no Brasil. Para que esse modelo funcionasse, era preciso instilar na tropa<br />

um fervor quase messiânico. Só que, no Garantia, o “Messias” que movia o pessoal<br />

tinha outro nome: bônus.<br />

Os melhores empregos no Brasil dos anos 70 estavam em multinacionais. O<br />

sonho da maioria dos jovens recém-formados e dos executivos era trabalhar em<br />

companhias como Shell, IBM ou Volkswagen. Nessas empresas não apenas o<br />

salário era alto, como o pacote de benefícios era completíssimo – carros com<br />

motorista, escola para os lhos e até títulos de clube entravam no jogo. Grandes<br />

grupos empresariais brasileiros de porte ainda eram raros e constituíam-se de<br />

companhias familiares, em que “forasteiros” raramente chegavam ao topo. Nessas<br />

empresas havia uma clara distinção entre os “donos” e os “outros”. Remuneração<br />

variável, tanto em companhias brasileiras quanto nas multinacionais, era algo<br />

secundário.<br />

O modelo copiado do Goldman Sachs por Jorge Paulo subvertia essa ordem. O<br />

Garantia pagava salários abaixo da média do mercado, mas os bônus podiam<br />

chegar a quatro ou cinco salários extras, uma exorbitância para a época – desde que

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