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Em busca dos “PSDs” –<br />
Poor, Smart, Deep Desire<br />
to Get Rich<br />
M<br />
anter uma boa rede de relacionamentos, muito antes que a palavra networking<br />
entrasse na moda, sempre foi uma preocupação de Jorge Paulo Lemann. Um<br />
tanto introspectivo e caladão – é comum escutar relatos de reuniões em que ele não<br />
apenas ca em silêncio, como também, tomado por um tédio abissal, dá breves<br />
cochilos –, ele desde cedo percebeu que se cercar das pessoas certas representava uma<br />
tremenda vantagem. Após sua saída forçada da Libra, era chegado mais uma vez o<br />
momento de aplicar esse raciocínio.<br />
Jorge Paulo tinha uma boa ideia na cabeça (abrir sua própria corretora) e uma<br />
equipe anada para começar a seu lado (José Carlos Ramos da Silva e Luiz Cezar<br />
Fernandes). Faltava algo importante: capital. O dinheiro que ele e Ramos da Silva<br />
receberiam pela venda da participação na Libra seria pago a prazo, mas para<br />
comprar um título de corretora era preciso dinheiro vivo. Como naquela época –<br />
1971 – a bolsa de valores vivia um período de euforia, o preço dos títulos estava<br />
altíssimo.<br />
Sem dinheiro para a corretora, Jorge Paulo e Ramos da Silva quase se<br />
contentaram em ter um negócio menor, uma distribuidora de valores. Negociavam<br />
a compra de uma pequena empresa chamada Vésper, que pertencia à construtora<br />
carioca Metropolitana, quando de repente foram interrompidos. “Um dia chegou um<br />
cliente do Jorge, praticamente um amigo, que perguntou o que a gente estava<br />
fazendo”, lembra Luiz Cezar Fernandes. “Ele disse que sabia que estávamos<br />
comprando uma porcaria de uma distribuidora e que era um absurdo termos saído<br />
de uma corretora para fazer aquilo. Falou um monte.”<br />
O cliente em questão era o cearense Adolfo Gentil, ex-deputado federal e dono do<br />
Banco Operador, sediado no Rio de Janeiro. Rico, entusiasta de tênis e 20 anos mais<br />
velho que Jorge Paulo, ofereceu-se para nanciar a compra de uma corretora. Para<br />
ajudá-lo, chamou o amigo Guilherme Arinos Barroso Franco, um amazonense<br />
descendente de índios tapajós e itacoatiaras que começou a carreira como contínuo do<br />
Banco do Brasil. Formado em direito, aos 26 anos Arinos já havia se tornado<br />
assessor pessoal do ex-presidente Getúlio Vargas. Fanático por futebol – o Botafogo<br />
era sua paixão –, ele chegou a ter quase 40 cadeiras cativas no Maracanã. Mais<br />
tarde, também caria conhecido como o pai do ex-presidente do Banco Central<br />
Gustavo Franco. Estava fechado o time de financiadores da compra da corretora.