Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ocarioca Marcel Herrmann Telles foi trabalhar no mercado nanceiro por uma<br />
única razão: queria ganhar dinheiro, muito dinheiro.<br />
Marcel nasceu em 23 de fevereiro de 1950, lho de um piloto de avião e de uma<br />
ex-secretária da embaixada americana que depois do casamento passou a se dedicar<br />
exclusivamente à família. Durante a infância, estudou no Colégio Santo Inácio,<br />
tradicional instituição de ensino do Rio de Janeiro. “Naquela época, o colégio estava<br />
muito próximo das ideias originais de Santo Inácio, um ocial do exército espanhol<br />
do século XVI”, explica o advogado Paulo Aragão, sócio do escritório Barbosa,<br />
Mussnich, Aragão e contemporâneo de Marcel no colégio. “Nossa formação tinha<br />
um forte apelo militar, com muito foco e disciplina.” Marcel, um garoto introspectivo<br />
e CDF, levava para casa um boletim recheado de boas notas. No tempo livre,<br />
gostava de escrever poesia e pintar (o esporte só entraria em sua vida depois dos 20<br />
anos, em parte por influência dos seus futuros sócios no Garantia).<br />
Do Santo Inácio, Telles seguiu direto para o curso de economia da Universidade<br />
Federal do Rio de Janeiro. No nal da graduação começou a notar que alguns<br />
conhecidos chegavam para as aulas dirigindo motos bacanas e vestindo ternos bem<br />
cortados. Quis saber de onde vinha aquilo e ouviu dizer que aquele pessoal<br />
trabalhava no mercado nanceiro. Ele não tinha a menor ideia de como funcionava<br />
o setor nem conhecia qualquer gurão. Por conta disso, teve que entrar pela porta<br />
dos fundos. Conseguiu um emprego em 1970 na corretora Marcelo Leite Barbosa,<br />
então uma das maiores do país, conferindo boletos da bolsa de valores da meia-noite<br />
às seis da manhã. Pouco tempo depois foi trabalhar na área de informática. Um dia<br />
soube que o dono da corretora tinha dito no elevador que, se pudesse, se livraria de<br />
todas as atividades da empresa e caria só com o 8 o andar, onde funcionava o open<br />
market. Marcel, que a essa altura já tinha feito um curso de operador de pregão,<br />
decidiu que o open, área ainda pouco conhecida na época, seria seu destino. Tentou<br />
primeiro uma vaga na própria Marcelo Leite Barbosa. Como não conseguiu nada, o<br />
jeito foi caçar uma oportunidade fora. A chance surgiu no Garantia.<br />
Jorge Paulo Lemann estava viajando e sua entrevista seria com Luiz Cezar<br />
Fernandes. Marcel chegou cedo, como combinado, mas tomou um inesquecível chá<br />
de cadeira. Fernandes apareceu na recepção só no m do dia. Em vez de chamar o<br />
jovem para a entrevista, ele apenas o cumprimentou e foi embora, sem dar<br />
explicações. Aos 22 anos, teimoso e ambicioso, Marcel não se abalou. Voltou no dia<br />
seguinte e dessa vez Fernandes o atendeu. Além de formular as habituais perguntas<br />
capciosas, o banqueiro avisou ao candidato que, apesar de formado, precisaria