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SONHO GRANDE

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Para a revista, o mercado de capitais brasileiro, que permitia a existência de duas<br />

classes de ações – ordinárias (as chamadas ON, com direito a voto) e preferenciais<br />

(PN, sem direito a voto) –, prejudicava os minoritários. O caso da Ambev, segundo<br />

a publicação, era emblemático dessa anomalia. Como manda a Lei das S/A, que<br />

regulamenta as empresas listadas na Bovespa, a Interbrew fez uma oferta pública<br />

para comprar as ações ordinárias (com direito a voto) que não estavam nas mãos<br />

do trio de empresários. Ofereceu por elas 80% do que pagou aos controladores da<br />

cervejaria. O problema é que, também pela Lei das S/A, a cervejaria não era<br />

obrigada a estender esse direito, conhecido como tag along, aos donos de ações<br />

preferenciais (sem direito a voto). Assim, quem tinha nas mãos papéis PN se sentiu<br />

prejudicado – nas palavras da revista, esses acionistas sentiam que acabaram com<br />

“lixo” nas mãos. Nos dias que se seguiram, a percepção só piorou: as ações<br />

ordinárias tinham disparado e as preferenciais estavam em queda livre. “Poucas<br />

vezes vi o Jorge tão bravo com uma reportagem”, revela uma pessoa próxima ao<br />

empresário. Para ele, a queixa dos minoritários não fazia qualquer sentido – ao<br />

escolher as preferenciais, os acionistas sabiam das limitações desses papéis. “É como<br />

comprar um Fiat e achar que tem direito a uma Ferrari na garagem”, costuma dizer<br />

Jorge Paulo sobre o assunto.<br />

A matéria da Economist amplicava mundialmente as queixas de minoritários<br />

como a Previ, o poderoso fundo de pensão do Banco do Brasil, que detinha cerca de<br />

8,8% do capital total da Ambev (quase todo o volume em PNs). Desde que o<br />

negócio fora anunciado, a Previ havia demonstrado publicamente seu desagrado.<br />

Para o fundo, a transação beneciava apenas o trio controlador. O maior temor de<br />

Jorge Paulo, Marcel e Beto é que a gritaria fosse levada à justiça, se transformasse<br />

numa guerra de liminares e colocasse em risco a continuidade da transação. Eles<br />

queriam evitar a todo custo um embate como o que aconteceu na época da compra<br />

da Antarctica pela Brahma, quando a Kaiser se armou de argumentos jurídicos para<br />

atrasar a aprovação do negócio pelos órgãos de defesa da concorrência. Por sugestão<br />

de Marcel, o advogado Sergio Bermudes foi contratado pela Ambev para fazer as<br />

vezes de um minoritário e esmiuçar todos os detalhes do negócio a m de encontrar<br />

eventuais brechas (de quebra, a tática de Marcel impedia que Bermudes, um dos<br />

advogados mais famosos do país, atuasse em favor da Previ). Não havia nada que<br />

obrigasse a Interbrew a dar tratamento especial aos donos das ações preferenciais. Os<br />

minoritários tiveram de se conformar e, com o tempo, as ações voltaram a subir.<br />

Desde então elas se valorizaram quase 700%, contra 150% do Ibovespa.<br />

O trio de empresários teve de lidar ainda com outro imbróglio. A Comissão de<br />

Valores Mobiliários, CVM, abriu processos administrativos para investigar o uso de<br />

informações privilegiadas pelos três e outras supostas irregularidades que teriam<br />

acontecido durante a negociação com a Interbrew, beneciando os controladores da<br />

Ambev. No nal de 2009, Jorge Paulo, Marcel e Beto rmaram um acordo com a<br />

autarquia para extinguir os processos – em troca, pagaram mais de 18 milhões de

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