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SONHO GRANDE

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ninguém se refere à operação como uma compra). Depois seria necessário provar<br />

aos órgãos reguladores que a criação da supercervejaria não implicaria monopólio.<br />

Finalmente, os funcionários das duas cervejarias precisariam entender que a guerra<br />

acabava ali – havia tanta rivalidade que os empregados da Brahma eram proibidos<br />

de consumir produtos da Antarctica até mesmo dentro de casa. “Era como juntar o<br />

São Paulo e o Corinthians para fazer um time só”, diz Aragão.<br />

O processo de negociação foi rápido e restrito a poucas pessoas. Quase todas as<br />

reuniões aconteceram no escritório da GP Investimentos. Pelo lado da Brahma<br />

havia quatro interlocutores-chave: Roberto ompson, o negociador; Paulo Aragão,<br />

responsável por estabelecer as bases jurídicas do acordo; Adilson Miguel, diretor de<br />

revendas da Brahma, e João Castro Neves, um talentoso gerente de planejamento da<br />

cervejaria. Os dois últimos foram escalados para mergulhar nos detalhes da<br />

operação da Antarctica e avaliar as sinergias com a Brahma. Magim Rodrigues, o<br />

diretor-geral da Brahma, não se envolveu no processo. Marcel preferiu que<br />

continuasse tocando o dia a dia da cervejaria, para que ela não saísse dos trilhos<br />

durante a negociação.<br />

Castro Neves, na época com 32 anos, era o mais novo da turma. A primeira vez<br />

que ouviu o nome de Jorge Paulo Lemann foi ainda na adolescência. Carioca e<br />

praticante de tênis (chegou a ganhar alguns campeonatos no Rio de Janeiro), Castro<br />

Neves soube, aos 13 anos, que Jorge Paulo patrocinava um torneio juvenil. O<br />

vencedor ganharia a oportunidade de participar do Orange Bowl, nos Estados<br />

Unidos. “Eu não sabia direito quem ele era, mas achava bacana um cara que<br />

apoiava um campeonato desses”, lembra o executivo. Anos depois, já formado em<br />

engenharia pela PUC do Rio de Janeiro, ele procurou Jorge Paulo Lemann para<br />

pedir outro tipo de patrocínio. Castro Neves fora aprovado no MBA da Universidade<br />

de Illinois, em Chicago, mas não tinha como bancar os estudos. Jorge Paulo gostou<br />

do garoto, que se tornou um dos primeiros beneciados da Fundação Estudar, com<br />

uma bolsa de 20 mil dólares. Em 1996, recebeu uma proposta para trabalhar na<br />

Brahma. Na última entrevista antes de ser contratado, Castro Neves perguntou a<br />

Marcel Telles se havia chance de a cervejaria ser vendida para a Miller. Depois da<br />

associação das duas, em 1994, os rumores de uma eventual venda da empresa<br />

brasileira se multiplicaram. “Temos zero interesse em vender. A gente acabou de<br />

comprar esse negócio e vê isso como algo de super longo prazo”, disse Marcel. E<br />

acrescentou: “Eu acho que um CEO tem um prazo na função. Já estou aqui há seis<br />

anos, devo ter mais uns quatro. Depois eu tenho que dar espaço para outra pessoa,<br />

para novas ideias... A não ser, sei lá, que a gente compre a Budweiser [principal<br />

marca da Anheuser-Busch].” Castro Neves achou a declaração um tanto maluca,<br />

mas avaliou que teria oportunidade de crescer na companhia. Decidiu aceitar o<br />

convite. Foi o início de uma trajetória que o tornaria o principal executivo da<br />

cervejaria em 2008.<br />

Em 1 o de julho de 1999, 45 dias depois de dar o pontapé inicial no Projeto

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