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SONHO GRANDE

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A disputa entre os dois se tornou mais aberta em 1990, quando a sede do<br />

Garantia foi transferida do Rio para São Paulo e todas as áreas do banco<br />

começaram a funcionar sob o mesmo teto – até então a mesa de operações,<br />

controlada por Valle, cava no Rio de Janeiro, e a área de corporate nance,<br />

comandada por Haddad, em São Paulo. Dois anos depois da mudança de endereço,<br />

uma manobra da corretora do Garantia na Bovespa fez com que Valle perdesse<br />

terreno. No dia 12 de fevereiro de 1992 a corretora tentou baixar articialmente o<br />

valor das ações do Ibovespa, sobretudo da Telebrás. Presa a um contrato de venda<br />

futura do índice, ela ganharia se o Ibovespa caísse e perderia se o índice subisse. O<br />

problema era que a bolsa estava em alta e, quando a corretora fosse quitar a<br />

operação, perderia dinheiro. Entre 12h30 e 13h daquele dia, as corretoras Garantia e<br />

Talarico começaram a comprar e vender papéis entre si, com valor abaixo do<br />

mercado (no jargão nanceiro, uma operação conhecida como “Zé com Zé”). A<br />

Bovespa percebeu a movimentação estranha, interrompeu o pregão e imediatamente<br />

cobrou explicações dos envolvidos. Na sequência, abriu dois processos<br />

administrativos contra as duas empresas (números 001/92 e 002/92). O estrago<br />

estava feito.<br />

O caso de manipulação do pregão ganhou as páginas da imprensa. Jorge Paulo<br />

Lemann, segundo a descrição de um ex-sócio do banco, cou “lívido” com o<br />

episódio. Ter sua credibilidade arranhada é sempre um enorme risco para uma<br />

instituição nanceira. Naqueles tempos a situação era ainda mais delicada – o caso<br />

do especulador Naji Nahas, acusado de ser o responsável pela quebra da bolsa do<br />

Rio em 1989, ainda estava fresco na memória do mercado. Aplicar um corretivo no<br />

Garantia, um banco arrogante e supostamente invencível, era, portanto, um prato<br />

cheio para a Bovespa e serviria como exemplo para todos os agentes do setor<br />

financeiro.<br />

Para se defender o banco contava com pareceres técnicos dos economistas<br />

Affonso Celso Pastore e Mário Henrique Simonsen, e também da KPMG. Embora<br />

Tom Freitas Valle não tenha sido o operador diretamente envolvido na manobra –<br />

esse papel coube a quem estava no pregão –, como chefe da mesa ele também foi<br />

responsabilizado. A artilharia contra Tom não vinha apenas da Bovespa e da CVM.<br />

Alguns sócios do Garantia se aproveitaram da situação para botar mais lenha<br />

naquela fogueira. Uma declaração feita à época por Claudio Haddad dava bem o<br />

tom do clima que se instaurou no banco: “Operador, para nós, é todo mundo – do<br />

pessoal de pregão e de mesa até o diretor.” O jovem sócio Fernando Prado,<br />

conhecido dentro do banco tanto pela inteligência quanto pelo temperamento<br />

explosivo, era um dos mais dedicados a minar a credibilidade de Valle, seu chefe<br />

direto. “O Fernando [Prado] queria o lugar do Tom [Freitas Valle] e insuou o<br />

quanto pôde para prejudicá-lo”, diz um ex-Garantia de alto escalão.<br />

Para acalmar os ânimos dentro e fora do banco, a solução foi despachar Valle,<br />

então com 35 anos, para uma espécie de exílio em Harvard (a Bolsa de Valores de

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