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cerveja em cada fábrica da Brahma – todas produzidas no mesmo dia e na mesma<br />
hora. Para efeito de comparação também foram separadas garrafas da<br />
concorrência, compradas nas mesmas cidades em que a Brahma mantinha fábricas.<br />
O resultado foi alarmante: cada planta apresentava um produto nal diferente. O<br />
golpe nal foi o teste realizado naquela que era considerada a unidade mais eciente<br />
da companhia. Durante um dia inteiro, uma garrafa foi tirada da linha de produção<br />
a cada hora. A análise do material mostrou ainda que, em uma mesma fábrica, ao<br />
longo de um único dia, a bebida engarrafada mudava consideravelmente suas<br />
características. Quando soube das pesquisas, Marcel cou perplexo. “O que eu vou<br />
fazer com essa porra?”, perguntou a Falconi. O consultor disse que a saída era<br />
estabelecer padrões para cada uma das atividades da fábrica e medir tudo. Só iriam<br />
para o mercado produtos que se adequassem a essas normas.<br />
Marcel logo percebeu que muita gente seria contra essas mudanças. Para<br />
convencer os executivos a abraçar os mandamentos de Falconi, ele decidiu então<br />
atrelar os índices de qualidade ao bolso do pessoal. “Marcel colocou uma meta para<br />
todo mundo que trabalhava em fábrica, de operários a diretores: se no primeiro ano<br />
a unidade não alcançasse 50% das metas de qualidade, ninguém ganharia bônus<br />
nenhum”, explica Falconi. “No segundo ano ele aumentou a meta para 75% e, no<br />
terceiro, para 95%. Bastou isso para acabar a resistência ao nosso trabalho.” Aos<br />
poucos a metodologia proposta pelo Professor avançou para os demais setores da<br />
companhia. Vendas, administração, logística, nada cou de fora (atualmente os 116<br />
mil funcionários da AB InBev em todo o mundo têm metas individuais,<br />
desdobradas de acordo com as grandes diretrizes da companhia). O professor de<br />
engenharia se tornou homem de conança de Marcel e foi o primeiro forasteiro a<br />
ocupar uma cadeira no conselho de administração da companhia, em 1997.<br />
Com o tempo, a presença de Falconi se espraiou por outras empresas controladas<br />
pelo trio. Na Lojas Americanas, por exemplo, começou a trabalhar em 1992. “No<br />
dia do impeachment do [Fernando] Collor eu botei um terno e fui para Belo<br />
Horizonte. O Falconi ia participar de um evento lá e o auditório estava lotado. Aí<br />
toca o hino nacional e aparece aquele homem com comportamento de japonês, todo<br />
certinho. Quando vi aquela formalidade toda, pensei ‘onde é que eu vim parar?’”,<br />
lembra Fersen Lambranho, que a pedido de Beto Sicupira tinha viajado até Minas<br />
Gerais a m de contratar o consultor para a rede varejista. Nos anos que se<br />
seguiram, praticamente todas as empresas em que a GP Investimentos colocou<br />
dinheiro também passaram pelas mãos de Falconi e equipe.<br />
Aos 72 anos, Falconi continua envolvido com os projetos que sua consultoria<br />
desenvolve em empresas do trio de empresários brasileiros – sobretudo na Ambev,<br />
onde ocupa um assento também como conselheiro. Com seu jeito mineiro e cabelos<br />
brancos, Falconi pode à primeira vista parecer um senhor tranquilo, pacato. Mas<br />
ainda controla dados, números e resultados com mão de ferro e não ca satisfeito<br />
enquanto não atinge as metas que ele próprio ajuda a estabelecer. Em meados de