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Marcel. Ao contrário dos dois jovens que adoravam praticar esportes, era um<br />
sedentário convicto. Ele bem que tentou aprender pesca submarina, mas não se<br />
adaptou. Numa ocasião Jorge Paulo o convidou para pescarem nas Cagarras, um<br />
conjunto de sete ilhotas a cinco quilômetros da praia de Ipanema. Fernandes enjoou<br />
no mar e nunca mais repetiu a dose. Depois de tanto tempo no Garantia, ele havia<br />
acumulado um patrimônio considerável e começava a desacelerar o ritmo de<br />
trabalho. Nessa disputa por espaço, pouco a pouco Fernandes perdia terreno – e não<br />
gostava nem um pouco daquela situação. Durante uma longa entrevista concedida<br />
numa tarde quente de fevereiro de 2012, no Rio de Janeiro, ele falou sobre o assunto<br />
enquanto fumava seu inseparável cachimbo:<br />
“Dava para perceber que os três (Jorge Paulo, Marcel e Beto) estavam muito<br />
unidos e isso me incomodou um pouco. Não sei se por ciúme ou sei lá o quê. Talvez<br />
‘complexo de vira-lata’, como dizia o Nelson Rodrigues. Não estava bom pra mim,<br />
não estava confortável, embora eu fosse o segundo maior acionista do banco, com<br />
10% de participação... Eu tinha uma divergência principalmente com o Beto. Achava<br />
que a gente tinha que mudar um pouco a atuação, entrar na área de asset management<br />
(gestão de recursos de terceiros) e ele discordava...”<br />
Com tanto em jogo, não foi fácil tomar a decisão de sair do Garantia. Em<br />
setembro de 1982, Fernandes tirou uma licença de três meses. Antes, alertou Jorge<br />
Paulo de que talvez não voltasse. Ele aproveitou a folga para realizar um sonho<br />
antigo: ir a uma reunião do Fundo Monetário Internacional. “Eu nunca tinha<br />
conseguido porque o Jorge era radicalmente contra, achava que ali tinha um bando<br />
de babacas”, diz ele. Na reunião do FMI encontrou dois conhecidos do mercado: o<br />
economista Paulo Guedes e Renato Bronfman. Começaram ali mesmo a conversar<br />
sobre um possível novo negócio. Logo um quarto nome se juntou ao grupo, o do<br />
também economista André Jakurski. Em janeiro do ano seguinte, Fernandes avisou<br />
a Lemann que iria montar uma distribuidora de títulos e valores mobiliários. Em<br />
1983, com um capital de 200 mil dólares, nascia o Banco Pactual – o nome reúne as<br />
iniciais dos três maiores sócios, Paulo, André e Cezar (como Fernandes é conhecido<br />
no mercado). O Garantia recomprou as ações de Fernandes para que elas fossem<br />
distribuídas entre os sócios – principalmente os jovens. A partir daquele momento,<br />
Beto Sicupira e Marcel Telles formaram com Lemann um triunvirato que nunca<br />
mais seria ameaçado.<br />
Marcel Telles e Beto Sicupira chegaram ao antigo Garantia na década de 70.<br />
Praticamente todo esse tempo a dupla viveu em sociedade com Jorge Paulo Lemann